segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
O USO DA PALAVRA HOMEM FISICO
Para Rousseau o selvagem não precisava do outro para viver. Vive pois, na sua individualidade, só que o uso da linguagem veio tentar quebrar os limites existentes entre a individualidade e a relação com seus semelhantes.
Rousseau mostra que seria fazer uma má comparação entre, família contemporânea e família natural, em relação ao uso da palavra quando afirma:
“Que as línguas nasceram no comércio doméstico dos pais (...). Seria cometer a falta daqueles que, raciocinando sobre o estado de natureza, 2 transportam para ele as idéias pertencentes à sociedade e vêem sempre a família reunida numa mesma
2 Para Rousseau estado de natureza significa um estado individual de um homem não educado, como também pode ser considerado um estado hipotético antes da organização social.
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habitação e seus membros guardando entre si união tão intima (...) nesse estado primitivo, não tendo nem casa, nem cabanas, nem propriedade de qualquer espécie, cada um se abrigava em qualquer lugar e, freqüentemente, por uma única noite”. (ROUSSEAU, 1983:247).
Tendo em vista que a família natural usufruía toda a natureza para viver, sem que tivesse algo em comum que unissem aos seus semelhantes. Já na família da sociedade civil há um objetivo comum que faz com que os seus semelhantes se unam e vivam em partilha e diálogo.
A natureza acolhe muito bem o selvagem sem que fosse preciso que este procure refugio em outro lugar, e muito menos se comunicar. Como a criação humana é incompleta, mesmo no estado puro de natureza, eles também são incompletos. Quando crianças “Tendo o filho todas as suas necessidades para exprimir e, conseqüentemente, mais coisas para dizer à mãe do que esta ao filho, deveu (sic) fazer os maiores esforços de invenção e a língua empregada por ele devera ser, em grande parte, obra sua”. (ROUSSEAU,1983: 247). Precisam de ajuda tanto da natureza, como também de sua mãe para sua subsistência, logo, não sabem andar e muito menos procurar comida.
Rousseau supõe agora como necessária o uso da palavra e como se estabelecer. Assim conclui que o homem selvagem teve um desafio enorme para poder desenvolver esta arte da comunicação, tendo em vista, que nunca fez um esforço qualquer para se ouvir um som articulado e o que poderia ser isso. Logo o homem selvagem tem seus sentidos mais bem desenvolvidos do que seu intelecto. “Se os homens tiveram necessidade da palavra para aprender a pensar, tiveram muito mais necessidade ainda de saber pensar para encontrar a arte da palavra”. (ROUSSEAU,1983: 247).
Sem saber como surgiu o som da voz, sem ter um objeto sensível para estimular o uso do pensar e do falar, percebemos que a natureza teve uma grande parcela de contribuição no desenvolvimento desta arte, como já dissemos antes que o selvagem tem os sentidos mais desenvolvidos que o
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intelecto, assim Rousseau pressupõe que “a primeira linguagem do homem (...) é o grito da natureza3” (ROUSSEAU,1983:248) quando este se encontra em situações constrangedoras de perigo e de dor. A comunicação segundo Rousseau era feita a partir de gestos e imitação4 e mesmo assim ficava a desejar, por que os gestos só falavam das coisas presentes e muitas vezes o que um gesto dizia a um, não era a mesma coisa que dizia ao outro, ou seja, não havia uma comunicação exata a partir de gestos, eram inteligíveis, mas foi um grande passo da comunicação, para quem não expressava nada. Os gestos mostra que são capazes de comunica-se e que tudo ficaria mais fácil.
“Exprimiram, pois, os objetos visíveis e móveis graças a gestos, e aqueles que atingem a audição, graças a sons imitativos; mas, como o gesto só indica os objetos presentes ou fáceis de serem descritos e as ações visíveis, como o gesto não é de uso universal, porquanto a obscuridade ou a interposição de um corpo o torna inútil” (ROUSSEAU,1983: 248).
Assim vendo que a comunicação a partir de gestos era inútil e percebendo a necessidade da melhor comunicação resolveram substitui-la pela articulação da voz, ou seja, o uso da palavra, que mesmo na dificuldade obtiveram e de forma unânime o consentimento, a aceitação de todos. Mesmo assim tinham dificuldade na comunicação, onde uma coisa tinha uma nomenclatura, para outro objeto da mesma espécie tinha outra nomenclatura. “Cada objeto, a princípio, recebeu um nome particular, sem levar em consideração os gêneros e as espécies, que esses primeiros instituidores não estavam em condições de distinguir”. (ROUSSEAU,1983: 248).
3 Este grito do qual Rousseau se refere é grito do instinto humano, suas ansiedade, e a verdadeira vontade de ser livre sem depende de ninguém.
4 Imaginavam os primitivos que fosse mais fácil, pois, estes eram hábeis. Só não imaginavam que pudessem confundir a comunicação.
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Rousseau mostra que a idéia é abstrata5 e para se concluir na linguagem 6 temos que ter uma experiência com o real, ou seja, com o natural. É preciso que o nosso sentido tenha contato com a coisa para termos idéia do que é, e assim verbalizá-la.
“Toda idéia geral é puramente intelectual (...) tentai traça-vos a imagem de uma árvore em geral e jamais conseguireis; mesmo que não o queirais, será preciso vê-la pequena ou grande (...) se dependesse de vós nela não ver senão o que encontra em todas as árvores, essa imagem já não se pareceria com uma árvore”. (ROUSSEAU,1983: 249).
Assim sem conhecermos o que é a nomenclatura, o dicionário ficou muito grande, pois, uma só coisa tinha vários sentidos, logo cada selvagem denominava uma coisa de acordo com a sua experiência, seu modo de vida e a maneira de manipula-la.
O HOMEM FÍSICO
Rousseau apresenta o homem selvagem como um bom selvagem, ou seja, menos educado e sendo corporalmente igual a cada um de nós, que tem os mesmos sentimentos, vontades e desejos. Só que quando estudado mais de perto, a partir dos relatos dos viajantes, se percebe que esse ser é um verdadeiro animal no qual depende de tudo da natureza, essa que o acolhe, sustenta-lhe, na alimentação e abrigo não deixa faltar-lhe nada e estar sempre ao seu dispor. Todas as ações do selvagem são controladas pela natureza, pois sem ela, ele não sobreviveria; o seu agir, modo de portar-se, costumes e necessidades estão envoltos a natureza
“Eu o suporei conformado em todos os tempos como vejo hoje: andando sobre dois pés, utilizando suas mãos como o fazemos com as nossas, levando seu olhar a toda a natureza e medindo com os olhos a vasta extensão do céu. Despojado esse ser (...) considerando-o, numa palavra, tal como deve ter saído das mãos da natureza, vejo um animal menos forte do que uns, menos ágil do que outros, mas, em conjunto, organizado de modo mais vantajoso do que os demais” (ROUSSEAU,1983:238).
O homem selvagem foi ensinado pela natureza a sobreviver a todos e quaisquer desafios e assim conquistar o seu alimento, adquirindo desta forma uma estrutura robusta1 que amedronta algumas feras, no caso menos forte do que ele, adquiriu também uma agilidade em subir em árvore. Mas se a fera for mais forte do que ele, este foge para floresta na qual tem uma harmonia, de uma forma tão veloz, que não se imagina um homem qualquer. O homem selvagem
1 Torna-se robusto em relação ao homem civil porque a natureza exige deles muito esforço físico para sobreviver na floresta, enquanto o homem civil tem a industria que faz todo o trabalho pesado para ele.
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não conhece armas, mas tem coragem para lutar e conseguir aquilo o que quer, só com a ajuda do próprio corpo e de pedras. Assim afirma Rousseau que: “Nenhum animal guerreia naturalmente com o homem a não ser no caso de sua própria defesa ou de uma fome estrema”.(ROUSSEAU,1983: 240).
Rousseau acrescenta que o homem selvagem não precisa da medicina dos homens civis, pois não conhecem muitas doenças que vem da sociedade, tais como tuberculose, cólera e outras. O homem selvagem é sadio ao viver de acordo com a natureza, sua alimentação não contém toxinas, vive ao ar livre, “eles quase não conhecem outras doenças senão as feridas e a velhice”. (ROUSSEAU,1983: 241) E destas a natureza sabe muito bem como cuidar.
O homem selvagem sacia-se por completo na natureza a partir do seu instinto. Portanto não podemos dizer que os selvagens são mãos ou violentos, pois suas ações são oriundas do instinto. Assim os “os selvagens não são maus precisamente porque não sabem o que é ser bons” (ROUSSEAU, 1983: 252). Todos os seus desejos têm a ver com as suas necessidades físicas e dessas somente a natureza resolve, e nesta o selvagem confia.
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