sábado, 5 de abril de 2014
Marta, Maria, Lázaro e Nós...
Comentário baseado em João 11,1-45 ou 3-7.17.20-27.33-45
De todos os milagres de Jesus, relatados no evangelho de São João, a Ressurreição de Lázaro é sem dúvida o mais espetacular, visto que ocorreu três dias após o sepultamento, quando o corpo do seu amigo já estava em estado de decomposição, pois cheirava mal. Jesus tinha outros amigos além de Lázaro, pessoas do seu relacionamento, com certeza por ele muito queridas como por exemplo, o pai adotivo José, pessoas estas que morreram e ele nada fez...Por que cargas d’água não os ressuscitou também? Será que Lázaro era o mais amado de todos? Basta uma pergunta assim e já vamos percebendo que o evangelista João quer revelar algo muito maior do que a simples ressuscitação de um cadáver..João é especialista em montar verdadeiros dramas, como a história do cego de nascença, a Mulher Samaritana e agora, no último domingo da quaresma, a grande apoteose; Jesus também faz voltar á vida quem morreu, estamos no último capítulo da aula de catequese Joanina e por isso alguns detalhes são muito importantes. Jesus estava longe quando o estado de saúde do amigo agravou-se e mesmo sendo avisado, continuou a viagem e quando decidiu voltar já era tarde, Lázaro tinha morrido. Com seu poder, ele bem que poderia ter evitado que Lázaro morresse, mesmo á distância. E quando chegou na casa do falecido, o enterro já tinha ido. Imagine no cemitério, depois que já se fechou o caixão, chega um parente de longe que insiste em ver o finado. Nesse caso foi pior, Jesus mandou desenterrar Lázaro, mas que ousadia! Deve ter pensado muitos Judeus. Quem essa cara pensa que é?
É difícil de ler esse evangelho sem pensar nessas coisas, e se não fizer essas perguntas, o leitor corre o risco de se empolgar com a “embalagem” e menosprezar o “produto” Quem era Lázaro? Um amigo querido, que junto com as irmãs Marta e Maria sempre hospedava Jesus no final de um dia de pregações e ensinamentos. Uma comunidade que apesar de muito hospitaleira, era igual as nossas comunidades cristãs...
Tinha gente como Marta, lembram-se dela ? Aquela que era um “Pé de Boi” para trabalhar, e que se dava o direito de criticar a irmã, que não a ajudou nas tarefas em uma das ocasiões em que hospedaram Jesus. Aqui ela parece novamente estressada quando se levanta e vai ao encontro de Jesus para dar a bronca “Se o Senhor estivesse aqui, meu irmão não teria morrido...” Em outras palavras, “o Senhor é mui amigo heim! Não veio ver meu irmão e só me chega agora, quando ele já foi enterrado! O evangelho em nada muda o comportamento das duas irmãs diante de Jesus, Maria ficou em casa sentada, parece que Marta era a mais agitada. Ela vê algo especial em Jesus, talvez um Profeta Poderoso, pois para abrandar as palavra concluiu “Eu sei que o que pedires a Deus lhe será concedido”. Marta fala o que pensava um Judeu, tudo o que Deus poderia dar a uma pessoa Justa, era nessa vida, o conceito de Ressurreição era ainda bem rudimentar e não se tinha uma esperança escatológica.
Então Jesus fala da ressurreição em uma perspectiva totalmente nova “Teu irmão vai ressuscitar...”. Marta se detém ao conceito antigo, segundo o qual a ressurreição acontecerá no último dia, quando bons e maus serão julgados diante de Deus.
Vamos levando esta vida e fazendo nossas ações boas ou más, no final haverá o acerto de contas com Deus, ações boas serão premiadas, e as más receberão a justa punição. Marta é alguém que na comunidade faz e acontece, está sempre á frente tomando iniciativas, Jesus não veio para iniciar o evento da Salvação, mostrando o caminho que nos leva a ela, ele é a própria Salvação, ele não veio para nos ajudar a percorrer bem este caminho e assim ressuscitar entre os justos e alcançar o céu, Ele é o Céu, a comunhão plena com Deus, Ele é a Ressurreição! Mas não era assim que a Marta o via...As vezes na comunidade temos excessiva preocupação em FAZER, como se isso é que nos desse a identidade de Cristãos.
Maria, a contrário, vê em Jesus a possibilidade de Vida, mas diferente de Marta, sua Fé vislumbra algo novo que Jesus não vai fazer, mas que já é. A frase é a mesma de Marta, mas quanta diferença... .Longe de lamentar a ausência de Jesus, ela se prostra diante dele, reconhecendo interiormente que só ele é a Verdadeira Vida.
Podemos ver nesse evangelho um forte apelo para que, fazendo a experiência profunda de Jesus, como a Samaritana, passando a enxergar o mundo, as pessoas e os acontecimentos, como aquele cego, á luz de Cristo e de seu evangelho, somos enfim chamados a viver já nesta vida terrena, as alegrias da Vida Eterna que só Jesus oferece. Comunidade que não ouvir este chamado e não percorrer esse caminho, acaba perecendo e perdendo toda esperança. Marta e os judeus que murmuram, pela atitude tardia de Jesus, que não impediu a morte de Lázaro, são as pessoas que na vida de Fé ainda não conseguem vislumbrar em Jesus algo novo, que transcende o simples existir. Certamente não foram eles que removeram a pedra do túmulo, porque pó m orto estava ali há quatro dias e cheirava mal.
Fazemos parte de uma sociedade que gosta de enterrar mortos-vivos, mesmo á nossa volta, há muitas pessoas com as quais cortamos relacionamento, colocando a pesada pedra do preconceito e da indiferença, imitamos o sistema, que decide quem permanece vivo e quem deve morrer.
Comunidade verdadeiramente cristã é aquela que remove toda e qualquer pedra, mais ainda, é aquela onde os mortos vivos encontram um novo sentido para a vida, e livres das amarras podem agora caminhar. Se não for assim, continuaremos a enterrar nossos mortos vivos, por trás da bela fachada do Cristianismo.
2. Catequese sobre a ressurreição.
Estamos praticamente às portas da Semana Santa; no próximo domingo, o domingo de Ramos e da paixão do Senhor, entraremos na Semana Santa. O Evangelho desse quinto domingo da Quaresma é uma catequese sobre a ressurreição.
Situado no livro dos sinais, nosso relato é o sétimo e último sinal que Jesus realiza. Não nos esqueçamos de que a finalidade dos sinais é conduzir os discípulos, o leitor do evangelho, nós todos à fé em Jesus Cristo. Dizer que se trata do sétimo sinal significa que ele é o maior de todos os sinais, a plenitude dos sinais. Com esse relato, o autor do evangelho prepara o leitor para entrar com esperança nos relatos da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Estar longe de Jerusalém, lugar da habitação de Deus, era como estar morto, como perder o sopro de Deus. Por essa razão, Ezequiel utiliza a metáfora da abertura das sepulturas. A distância de Deus fazia o povo experimentar a falta da vida. Por isso, o texto termina com a promessa do sopro de Deus que faz viver.
O sopro de Deus faz viver para além da morte. No centro do texto do evangelho de hoje está a afirmação de Jesus a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida […]”. É pela fé que se participa dessa vida nova, transfigurada. A pergunta que provoca e desafia a fé de Marta e a nossa fé é a seguinte: “Crês nisto?” Marta responde afirmativamente, pois ela é no relato símbolo do discípulo perfeito que põe a sua confiança no Senhor.
Diante da morte há duas atitudes possíveis, representadas por Marta e sua irmã Maria: ficar prisioneiro do círculo da morte e do luto (Maria) ou romper com esse círculo pela adesão ao Senhor da vida. Quando Marta ouviu dizer que Jesus estava próximo, saiu correndo ao seu encontro; Maria, no entanto, permaneceu em casa, sentada, mergulhada no luto e na tristeza.
A presença do Senhor faz surgir a esperança. Marta que crê na ressurreição de Cristo, na vida que ele dá, será para sua irmã Maria mensageira de um chamado do Senhor que a faz sair do mundo da morte para estar diante daquele que é o Senhor da vida.
Para a nossa reflexão, a pergunta que se nos impõe a partir do relato é a seguinte: com qual das duas irmãs você, neste momento, se identifica? Você é portador de que mensagem? Você se identifica com Marta, que rompe o círculo da morte e deposita sua confiança no Senhor, que dele recebe a luz, a vida verdadeira, ou você se identifica com Maria, prisioneira do luto, da morte e da falta de fé?
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