quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O CAMINHO DO MESTRE


DIA 23 DE FEVEREIRO - QUINTA-FEIRA

QUINTA-FEIRA DEPOIS DAS CINZAS *
(ROXO – OFÍCIO DO DIA)


Leitura (Deuterônomio 30,15-20)
Salmo responsorial 1
Evangelho (Lucas 9,22-25)

Quem se propõe a seguir Jesus, não pode escusar-se de refazer o caminho do Mestre. Este caminho tem uma dinâmica bem definida. Jesus começa recusando-se a se apegar à sua igualdade com Deus, e, por conseqüência, dispondo-se a assumir, plenamente, a condição humana. Passa pelo testemunho radical do Pai e de seu Reino, sem se importar com a opinião de quem o critica. E se consuma na morte de cruz, como desfecho natural de uma vida de total renúncia de si mesmo.
Também do seguidor de Jesus exige-se a disposição de abrir mão de seus projetos pessoais, escolhendo somente os que são compatíveis com o Reino, sem poupar-se ou estabelecer limites, quando se trata de executá-los. Põe em risco a própria salvação, quem se deixa levar pela prudência humana, e procura salvaguardar certas dimensões de sua vida, temendo colocá-las em jogo.
À imitação de Jesus, seu seguidor tem um coração desapegado, livre dos ideais mesquinhos de ganhar o mundo inteiro, ao preço da própria condenação. Esta liberdade capacita-o a trilhar o caminho de Jesus, embora tendo de enfrentar a cruz, com seu componente de rejeição e de morte.
O seguimento exige disposição e coragem para não nos determos na metade do caminho. Como seguidores do Mestre, somos desafiados a concluir, com ele e como ele, a sua mesma caminhada. 


PRIMEIRO DOMINGO DE QUARESMA Ano B


Mc 1, 12-15
“Durante quarenta dias, no deserto, ele foi tentado por Satanás”



Os três evangelhos sinóticos contam a história das tentações de Jesus no deserto - Marcos duma forma muita resumida, Mateus e Lucas mais detalhadamente. Mas devemos lembrar que estes relatos procuram expressar uma experiência mística de Jesus, e então não devem ser interpretados ao pé da letra, duma maneira fundamentalista!

Uma coisa logo chama a atenção – nos três Evangelhos as tentações vêm logo após o batismo de Jesus! O batismo significava o assumir público da sua missão, como Servo de Javé. Logo após este compromisso, ele tem que enfrentar as tentações. Aqui a experiência de Jesus é como a nossa própria - nós temos compromisso com o projeto de Deus, mas entre o nosso compromisso e a nossa prática do seguimento de Jesus, existem muitas tentações!!

Marcos sublinha que “o Espírito impeliu Jesus para o deserto”. O Espírito não conduz Jesus à tentação, mas é a força sustentadora dele, durante as suas tentações. Como o Espírito dava força a Jesus, Marcos quer ensinar às suas comunidades que elas também poderão contar com este apoio do Espírito Santo nos momentos difíceis da vivência da sua fé!

CONVERSÃO, ABRIR O CORAÇÃO A CRISTO




A Quaresma é uma oportunidade para “voltar a ser” cristãos, através de um processo constante de mudança interior e de avanço no conhecimento e no amor de Cristo. A conversão não tem lugar nunca uma vez para sempre, mas é um processo, um caminho interior de toda a nossa vida. Certamente este itinerário de conversão evangélica não pode limitar-se a um período particular do ano: é um caminho de todos os dias, que tem que abarcar toda a existência, cada dia de nossa vida.
Desde este ponto de vista, para cada cristão e para todas as comunidades eclesiais, a Quaresma é a estação espiritual propícia a que se treine com maior tenacidade a busca de Deus, abrindo o coração a Cristo.
Santo Agostinho disse em uma ocasião que nossa vida é um exercício único do desejo de aproximarmo-nos de Deus, de sermos capazes de deixar Deus entrar em nosso ser. “Toda a vida do cristão – disse – é um santo desejo”. Se isso é assim, a Quaresma nos convida ainda mais a arrancar de nossos desejos a raiz da vaidade para educar o coração no desejo, quer dizer, no amor de Deus. “Deus – diz Santo Agostinho – é tudo o que desejamos” (Cf. “Tract. in Iohn.”, 4). E esperamos que realmente comecemos a desejar a Deus e, deste modo, desejar a verdadeira vida, o amor mesmo e a verdade.
É particularmente oportuna a exortação de Jesus, referida pelo evangelista Marcos: “Convertei-vos e crede na Boa Nova” (Marcos 1, 15). O desejo sincero de Deus nos leva a rechaçar o mal e a realizar o bem. Esta conversão do coração é antes de tudo um dom gratuito de Deus, que nos criou para si e em Jesus Cristo nos redimiu: nossa felicidade consiste em permanecer Nele (Cf. João 15, 3). Por esse motivo, Ele mesmo previne com Sua graça nosso desejo e acompanha nossos esforços de conversão.
Mas, o que é em realidade converter-se? Converter-se quer dizer buscar a Deus, caminhar com Deus, seguir docilmente os ensinamentos de seu Filho, Jesus Cristo; converter-se não é um esforço para realizar-se a si mesmo, porque o ser humano não é o arquiteto do próprio destino. Nós não fizemos a nós próprios. Por isso, a autorrealização é uma contradição e é demasiado pouco para nós. Temos um destino mais alto. Poderíamos dizer que a conversão consiste precisamente em não considerar-se “criadores” de si mesmos, descobrindo deste modo a verdade, porque não somos autores de nós mesmos.
Conversão consiste em aceitar livremente e com amor que dependemos de Deus, nosso verdadeiro Criador, que dependemos do amor. Isto não é dependência, mas liberdade. Converter-se significa, portanto, não perseguir o êxito pessoal, que é algo que passa, mas, abandonando toda a segurança humana, seguir sempre com simplicidade e confiança no Senhor, para que Jesus se converta para cada um, como gostava a Beata Teresa de Calcutá de dizer, em “meu tudo em tudo”. Quem se deixa conquistar por Ele não tem medo de perder a própria vida, porque na Cruz Ele nos amou e se entregou por nós. E precisamente, ao perder, por amor, nossa vida, voltamos a encontrá-la.

Papa Bento XVI

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A “sacramentalidade” que a humanidade busca em Deus



O que podemos dizer pela forma perceptivelmente que possuímos e até mesmo com um certo grau de evidência é que o homem, já nasce sem a fé, desdobrar isto leva a perceber que toda sacramentalidade está no “no criado em Cristo”(Cl 1,16) isto é com o “pecado original”, não si trata propriamente de uma perda, mas de evitar um crescimento com a graça que nos coloca numa perspectiva de uma relação íntima com Deus, como já sabemos, a religião nos apresenta um diálogo entre o Deus vivo e o homem. Pois ela supera as nossas fraquezas humanas e é somente pela graça que nos tornamos religiosos!
Toda a comunidade sacramental está presente, de maneira consciente ou não, vida de toda humanidade religiosa e esta por sua vez submete-se a Deus, que convida a participar da graça. O ser divino que está presente em nós é o “em Cristo” do nosso ser criado, é o ter nascido sem saber deste nascimento no Espírito de Cristo. Por isso, é que o batismo, o “nascer não da carne, mas do Espírito Santo” que manifesta o verdadeiro ser – o ser Filho de Deus. 
Deus tem um pessoal empenho na salvação da humanidade. A experiência religiosa que temos interiormente que nos vem pela graça, não tem uma forma visível, mas permanece, mesmo que de forma desconhecida no interior do “coração” do homem. O homem que em resposta louva ao Deus que se manifesta através de um ato de salvação ou mediante a revelação de um mistério. Deus é o sujeito e a fonte de toda a ação criadora e salvadora, tudo que Deus realiza no homem e no mundo. Deus “nos escolheu nele antes da fundação no mundo para sermos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor. Ele nos predestinou a ser para Ele filhos adotivos por Jesus Cristo, assim o quis a sua benevolência”(Ef 1,4-5) , liberta, reuni tudo em Cristo, entrega a herança prometida (cf. Ef 1,8-12) e concede o dom do Espírito Santo:

“ouvistes a palavra da verdade, o evangelho que vos salva. Nele, ainda, crestes e fostes marcados com o sinete do Espírito  prometido, o Espírito Santo, adiantamento da nossa herança até a libertação final em que dela tomaremos posse, para o louvor da sua glória”(Ef 1,13-14)

Deus cria o homem e dirige-se a ele de pessoa para pessoa e isso nos mostra que pela relação intima e pessoal que temos com Deus nos coloca em confronto com o mundo no qual se coloca a nossa existência que nos comunica o Deus vivo, o qual o homem não consegue separar, não por seus méritos, mas pela bondade de Deus que não o abandona. 
O homem deve ter com Deus uma relação de dialogo; como aquela relação de pai para com a criança, que não tem condições de reencontrá-la por si mesmo.

"Encontra-se o homem perante Deus numa relação de Tu e eu, numa relação de diálogo. O homem perdeu essa relação viva com, esta relação de criança com o Pai, não podendo reencontrá-la por si mesmo. é o que a vida neste mundo faz compreender".[1]

É em Israel que se dá a primeira etapa da Igreja onde é apresentado o fruto da intervenção da misericórdia de Deus, a preanunciação do que São Paulo empregará a Igreja de Cristo, escrevendo que:

“Cristo amou os seus e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela palavra[2], para apresentar a si mesmo a Igreja, gloriosa, sem mancha nem ruga, ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível" (Ef 5,25-27).

Pelo batismo o próprio Cristo purifica a sua noiva, isto é, a Igreja para apresentá-la a si mesmo. A parte central da revelação de Deus nos é apresentada no Antigo Testamento: “Eu serei o teu Deus e tu serás meu povo".[3]
Espírito Santo. O Espírito Santo sempre é o mesmo e único, amor absoluto e intranscendível.



[1] Leonardo Boff - Os sacramentos da vida e a vida dos sacramentos. P.15
[2] É por meio da Palavra proclamada que o batismo ganha o seu valor e também é claro pela profissão de fé do batizado. Toda a originalidade do sacramento está na palavra de Deus. Cf. Mc 16,15s.
[3] Êx 6,7; Lev 26,12; Dt 26,17-18;29,12-13;Jr 7,23;11,4;24;31,33;Ez11,20;14,11;37,27; Os1,9.

1.1- Considerações preliminares sobre o conceito de sacramento.




Para compreendermos bem a definição de sacramento, é preciso inserirmos o nosso consciente para os sinais que apontam e manifestam Deus em nossa vida. É a Igreja como que uma grande pioneira em entregar para o homem, através dos sacramentos, os canais por onde circulam as vias da salvação. Sim é claro que entre as vias então os relacionamentos de pessoas em suas realidade humanas, que entre si manifestam nas ações ato de amor, que por sua vez o impulso maior para a solidariedade, o reconhecimento do outro como pessoa importante. 

“Sacramento significa exatamente essa realidade do mundo que, sem deixar o mundo, fala de um outro mundo, o mundo humano das vivencias profundas, dos valores inquestionáveis e do sentido plenificador da vida. Compreender este pensar é abrir-se para a acolhida dos sacramentos da fé. Eles radicalizam os sacramentos naturais nos quais vivemos em nossa diuturna quotidianidade”.[1]  

Pretendemos entender o conceito de maneira não alienativa e sim celebrativa levando o homem a conhecer e sentir a experiência do próprio Deus que por meio do sacramento é o centro e o sujeito de toda salvação. Essa compreensão deve, contudo ser fruto de um estudo atencioso na parte teológica dos sacramentos, o que pretendemos de maneira simples e clara apresentar.
Primeiro é lícito que façamos menção a essa teologia sacramental, no sentido de perceber também que os sacramentos não estão separados “do mistério de Cristo, isto é, nos remetem a uma realidade ulterior”[2].
Porém ver-se então que temos que entender o sacramento a partir de uma perspectiva de Igreja, entender partindo daquilo que Deus oferece para a humanidade em seu plano de salvação. Mas para uma definição precisa sobre o que é um sacramento dizemos que consiste numa realidade de uma grande divergência de cultura muito presente envolvendo Deus, o homem e a Igreja.
O que é mais expressivo para explicar sobre o conteúdo de sacramento é nos orientarmos a partir de razões teológicas que nos farão compreendê-lo melhor. Para isso, o autor Dionísio Boróbio nos dar algumas pistas a cerca dessas razões:
A razão teológica que nos ajuda a compreender é crer no mesmo Deus de Jesus Cristo e que será sempre o mesmo. Agora, o que acontece é que os homens possuem inúmeras maneiras para sua crença neste Deus. Daí se percebe a atuação de Deus no sacramento, isto é, Deus que vai por meio do sacramento ao encontro do homem.
A comunidade cristã não é uma instituição,mas uma participação na vida de Jesus, unidos a Jesus, cada membro é chamado a testemunha-lo, colocando a comunidade em continuo crescimento. “Cristo é a vida verdadeira que comunica a vida e a fecundidade aos sacramentos, isto é, a nós que pela Igreja permanecemos nele e sem o qual nada podemos fazer”(cf. LG 7 e Jo 15,1-5).
Os sacramentos têm como pedra fundamental à pessoa do próprio Cristo. Nele a comunidade de fé se fundamenta e através da Igreja também se renova. A partir de então é confirmada com isto a pessoa de Jesus Cristo como origem dos sacramentos, e é aqui que entra a razão cristológica.

“Cristo, Mediador único, constituiu e sustenta indefectivelmente sobre a terra, como organismo visível, a sua Igreja Santa, comunidade de fé, de esperança e de caridade, e por meio dela comunica a todos a verdade e a graça ...A estrutura social da Igreja serve ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para fazer progredir o seu corpo místico”( LG 8.1 e cf.Ef 4,16).

Com grande esforço de renovação está a razão pneumatológica. Concernente a esta razão surge uma série de questionamentos em torno do lugar do Espírito nos sacramentos. Sim, com firmeza podemos dizer que é o espírito da luz que faz ver na realidade a presença sacramental de Deus. “Ninguém pode (conhecer) falar que Jesus é o Senhor, a não ser pelo Espírito Santo”( 1Cor 12,3).
Nunca podemos compreender os sacramentos distantes da realidade eclesial. Agora conforme o modelo de Igreja que defendemos também expressamos o modelo dos sacramentos. “A igreja é em Cristo como quer sacramento, isto é, sinal e instrumento, da união intima com Deus e da unidade de todo o gênero humano”(LG 1). É necessário observarmos bem qual a relação que existe na Igreja como um todo (universal, local, particular e ministro); daí que podemos falar de razão eclesiológica. A Igreja nasce do anuncio fundamental que provoca a conversão, o crescimento da graça e uma expansão por meio do testemunho, neste sentido nos mostra o evangelista Lucas nos At 2,4247:

“Eles eram assíduos aos ensinamento  dos apóstolos e à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações. O temor se apoderava de todo mundo: muitos prodígios e sinais se realizavam pelos apóstolos. Todos os que abraçavam a fé estavam unidos e tudo partilhavam. Vendiam as suas propriedades e os seus bens para repartir o dinheiro apurado entre todos, segundo a necesssidade de cada um. De comum acordo, iam diariamente ao templo com assiduidade: partiam o pão em casa, tomando o alimento com alegria e simpliscidade de coração. Louvavam a Deus e eram favoravelmente aceitos por todo o povo. E o Senhor ajuntava cada dia à comunidade os que encontravam a salvação”.

Cristo para cumprir a vontade do Pai  inaugura na terra o reino dos céus. A igreja, isto é, o reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus. Cristo é a videira que comunica a vida e a fecundidade aos sacramentos, isto é, a nós que pela Igreja permanecemos nele e sem o qual nada podemos fazer ( cf. Jo 15,15).
Os sacramentos são sinais de esperança e participação no que chamamos de “liturgia celeste”. Na dimensão da razão escatológica podemos celebrar o momento presente, mas também o que vai acontecer. E o que seria celebrar essas duas dimensões escatológicas que significa celebrar sacramentalmente aquilo que está na vida terrena mais ligada a vida do homem e a Deus; e segundo, celebrar a manifestação de Deus nos sacramentos como um sinal de esperança para a vida futura.
 “O sacramento é a expressão simbólica comunitária de uma situação fundamental humana e social, que é assumida através da Igreja na ordem da salvação de Deus e vem a ser pela palavra e pelo sinal sacramental, uma situação de graça”[3]

Na razão antropológica do sacramento é cabível que as ciências humanas façam as suas indagações a respeito de como se originam, qual a diversificação eficácia e necessidade dos sacramentos. O ponto culminante na razão antropológica é se perguntar qual o lugar e qual a relação do homem nos sacramentos. Com este mesmo homem a razão antropológica do sacramento envolve e se pergunta também sobre a sua relação com Deus e com a Igreja que é comunidade de fé. É também numa realidade cultural que o sacramento é celebrado. Ele permeia toda uma situação que pode ser social e eclesial, formas de expressão, costumes. É preciso analisar que critérios se podem utilizar para celebrar o sacramento dentro da realidade de cada cultura e cada povo. É necessário também que a realização de qualquer sacramento esteja voltada para transformação da pessoa dentro da razão sociocultural do sacramento.
Na vida da Igreja e em sua realidade pastoral os sacramentos têm lugar fundamental, visto que “a pastoral sacramental é um momento decisivo da vida da Igreja”[4]. Daí que a razão pastoral dos sacramentos completa o conjunto das razões expressadas antes. Elas fazem parte da definição do que seja o sacramento. No entanto, o conceito de sacramento se estende ainda mais, pois todos os sacramentos possuem uma riqueza incalculável de dimensões que seria riquíssimo se delas tivéssemos conhecimentos para aprofundarmos melhor a realidade do mistério pascal.
 Ainda quanto ao conceito de sacramento, é valido que façamos menção ao conteúdo dos primeiros doze séculos da Igreja em que o sacramento era também chamado de mistérios. Esse termo designava as diferentes realidades dos ritos sacramentais de Igreja. No Concílio de Trento a Igreja levou a cabo uma melhor fixação a respeito do conceito; na sessão VII nos cânones 1-12 o Concílio afirma que o sacramento só se aplicaria às realidades que preenchessem estes requisitos: instituição por Cristo, estrutura da matéria e forma, eficácia “ex opere operato”[5], intenção por parte do ministro e disposições por parte do sujeito. Pelo que vimos, o sacramento significa ainda manifestação do dom invisível da multiforme graça de Deus, e todo sacramento expressa também aquilo que está contido no dinamismo da historia da salvação, isto é, a presença salvífica de Deus na historia humana.

Entendemos por graça esse estar ai de Deus para mim presente e atuante, como um “você” pessoal e vivo que transforma a minha vida e salva em Cristo, dando-lhe uma nova orientação, força e dinamismo no Espírito. Essa presença pessoal, salvadora e agraciadora de Deus ocorre em todo homem, pressupondo-se uma abertura, a partir da sinceridade (...), na própria distinção do cotidiano. O homem fiel, e mais ainda o cristão batizado está consciente dessa presença autodoadora em todos os momentos da sua vida e sabe que não precisa esperar determinados instantes ou dirigir-se a certos lugares para viver e até mesmo expressar a alegria desse estar “gratuito” de Deus com os homens.[6]

Com isso, a historia toda vai se transformando em lugar do encontro e da experiência com Deus a partir de Jesus Cristo, sacramento original, que torna possível o amor e a graça de Deus. Nisto acontece o diálogo entre Deus, o homem e o mundo.
Para expressar melhor o conceito deste ponto sobre sacramento, queremos falar agora do sacramento como palavra e do sacramento como sinal-simbolo. Pois na palavra, se manifesta a eficácia salvadora de Cristo através da palavra da Igreja e no sinal se encontra uma “A tradição da Igreja é unânime em reconhecê-lo ao definir o sacramento a partir de sua visualização externa do dom interno de graça”.[7] È por meio do acolhimento da Palavra de Deus que as pessoas tomam atitudes de conversão e formam comunidade.“Demos graças a Deus sem cessar: Quando recebeste a palavra de Deus que vos fazíamos ouvir, a acolhestes, não como palavra humana, mas como e realmente palavra de Deus”(1Ts 2,13). Por meio da escuta da Palavra de Deus é que vem a fé para aquele que crerem. Pois “a fé vem da pregação, e a pregação é o anuncio da Palavra de Cristo”(Rm 10,17b). Ora, vale ressaltar que a pregação da Palavra refere- se a Cristo e que, a fé provém do ouvir, o ouvir, porém, da palavra/causa de Cristo.
O sacramento como palavra: antes de falar mais precisamente do sacramento como sinal, é obvio que recordemos algo que acontecia no passado. É que de um lado havia uma grande preocupação com a palavra e a fé e isso entre católicos e protestantes. Cristo é presença real através de sua palavra que se torna carne, também no sacramento. O sacramento é o que é porque já a palavra de Deus o é: sacramental, presença real do amor de Deus por nós nele.
Neste sentido, Karl Rahner nos ajuda a compreender que

“de qualquer maneira que seja anunciada fielmente como palavra de salvação, e pressupondo-se a disponibilidade fundamental de acolhida, essa palavra tem um caráter de exibição, comunica o que anuncia, realiza o que diz, é eficaz. Mas o alto grau de eficácia é atingido na palavra sacramental, isto é, na palavra que a Igreja pronuncia quando realiza um sacramento”[8].

Do que vimos podemos dizer que na palavra encontramos o que poderíamos chamar de conteúdo da salvação. É através da Palavra. A Palavra possui uma eficácia capaz de evangelizar o homem que por si só não conhece a verdade senão somente por meio da palavra de Cristo acolhida na fé, a palavra comunica no sacramento a graça e o amor de Deus. A palavra produz a ação e a mostra a força da palavra, a força do ato criador de Deus. E assim como podemos perceber  Palavra divina é a essência constitutiva para o sacramento.
O sacramento como sinal: o sacramento como sinal vem nos mostrar como Deus realizou as suas maravilhas. Jesus Cristo é o próprio sinal visível do Pai quando afirma: “quem me vê, vê o Pai” (Jô 14,9). O sacramento como sinal não é visto também somente através de elementos materiais, mas daquilo que está expresso numa palavra ou numa ação e tudo isso deve ser acolhido na liberdade e na fé de cada cristão. Na linguagem tridentina: a “matéria”, visalização da palavra, cuja verdade porém, só a fé que “vê”.
Antropologicamente falando “o homem precisa de sinais e símbolos porque é simbolicamente; precisa de sacramentos porque é sacramentalmente”[9]. O ser humano é um ser sacramental; no nível religioso, exprime suas relações com Deus num conjunto de sinais e símbolos. Na verdade, Deus utiliza-os quando quer se comunicar com o ser humano. Contudo, notamos que o sacramento se refere a um sinal sensível no qual transparece e atua uma realidade invisível, divina o que poderíamos dizer: o mistério de nossa fé.
O Concílio Vaticano II recuperou o sentido antigo do sacramento, equivalente a mistério. O Concílio foi como que abriu as perspectivas e fala de toda a Igreja como sacramento, sinal e instrumento da unidade de todo gênero humano em Cristo. Deste modo, atividades e sua simples presença, é de alguma forma sacramento, sinal sensível que aponta para o mistério de Deus, o mistério de todo ser humano e da humanidade como um todo revelado em Jesus Cristo.




[1] Leonardo Boff, Os sacramentos da vida e a vida dos sacramentos. p 20
[2] BORÓBIO, Dionísio. A celebração na Igreja I: Liturgia e sacramentologia fundamenta p. 287
[3] BORÓBIO, Dionísio. A celebração na Igreja I: Liturgia e sacramentologia fundamenta P. 315
[4] BORÓBIO, Dionísio . A celebração na Igreja I: Liturgia e sacramentologia fundamenta  p. 290
[5] Esta expressão significa: Realizada, operada, ou feita da própria obra.
[6] BORÓBIO, Dionísio. A celebração na Igreja I: Liturgia e sacramentologia fundamenta p. 389 e 390
[7] BORÓBIO, Dionísio. A celebração na Igreja I: Liturgia e sacramentologia fundamenta p. 317
[8]BORÓBIO, Dionísio. A celebração na Igreja I: Liturgia e sacramentologia fundamenta p. 314
[9] BORÓBIO, Dionísio. A celebração na Igreja I: Liturgia e sacramentologia fundamenta p. 320