Comentário
baseado no Evangelho de Jo 6,1-15
O relato da multiplicação dos pães, nós o encontramos também na
tradição sinótica (Mt 14,13-21; Mc 6,30-44; Lc 9,10-17). A multidão segue Jesus
por causa dos sinais que ele realizava em favor dos doentes. O sinal, por sua
própria natureza, é ambíguo; precisa sempre ser interpretado, pois remete a
outra realidade, diferente daquela imediatamente percebida. Jesus denunciará a
cegueira da multidão e o equívoco a que está imersa: “… vós me procurais não
por terdes visto sinais, mas porque comestes pão e vos saciastes” (v. 26).
A multiplicação dos pães levou a multidão a considerar Jesus
como o verdadeiro profeta, aquele que todos esperavam, desde longa data. O fato
de ter alimentado uma imensa multidão, contando apenas com cinco pães de cevada
e dois peixes, revelou-se como sinal inequívoco da messianidade de Jesus. Daí o
desejo do povo de fazê-lo rei, na esperança de que todos os seus problemas
fossem resolvidos da mesma forma eficiente e rápida, que acabavam de
presenciar. Foi grande a expectativa criada em torno dele.
Todavia, Jesus não se deixou levar por tal raciocínio demasiado
pragmático. O povo não havia entendido o sentido do milagre, uma vez que o consideravam
apenas sob o aspecto material de superação da fome pela abundância de pão. O
objetivo visado por Jesus era bem outro: ensinar a todos que a partilha
fraterna é um sinal irrefutável da presença do Reino, acontecendo na história
humana. Por outras palavras: a partilha é um imperativo na vida de quem aderiu
ao Reino, fazendo dele o centro de sua vida. Ou seja, o milagre dependeu da
postura interna de cada pessoa, e não somente da iniciativa de Jesus.
O Mestre é o verdadeiro profeta não porque multiplicou os pães
de forma prodigiosa, à revelia das pessoas, e sim, porque abriu o coração
humano para o amor, muito bem expresso na partilha dos bens.
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