Comentário baseado no
Evangelho de Jo 20,19-31
A descrença de Tomé
persiste ainda hoje nas comunidades cristãs, pois em sã consciência, é difícil
as vezes, ter a crença inabalável de que o Senhor está vivo e presente na
comunidade. Não só porque não podemos vê-lo nem tocá-lo, mas principalmente
porque a vida em comunidade nem sempre é o que sonhamos e esperamos.
Como
pode Jesus estar presente se certas coisas dão tão errado, como pode Ele estar
presente e as intrigas, fofocas, divisões, mal entendidos, ciúmes e inveja,
serem tantas no seio da comunidade. Enfim, são tantos pecados da nossa Igreja,
da parte dos fiéis e dos ministros, que é impossível crer que o Senhor está
realmente presente. Parece mesmo que o Senhor desistiu da barca da Igreja e ela
foi a deriva.
O
próprio ambiente, e as condições em que a comunidade se encontrava, após a
morte de Jesus, já era algo mais para a incredulidade e o fracasso, do que um
retorno ao projeto do Reino anunciado por Jesus. Estavam de portas fechada, por
medo, provavelmente iriam fazer uma última reunião, dizer que foi um prazer
caminharem aqueles três anos juntos, mas que infelizmente era melhor cada um
tomar o seu rumo e retornar á vidinha de antes.
Muitos
cristãos, marcados por desilusões, pensam assim, alguns até insistem em
procurar uma comunidade perfeita e pensam tê-la encontrado, até que nova
desilusão provém e a fé vai perdendo o seu encanto. Parece que a Igreja e o
Cristianismo, tornaram-se intrusos na vida do homem.
Entretanto,
uma assembléia que estava destinada a dissolver-se, porque havia perdido o seu
rumo, é surpreendida pela presença do Senhor! É nos momentos de fracasso, medo
e desânimo, que Jesus se revela na assembléia. Quantos momentos e períodos
assim, a Igreja já não viveu, desde os primórdios até os dias atuais? Digamos
que, se ela fosse uma grande “farsa” como pensam alguns “iluminados”, como
alguém poderia sustentar uma “farsa” ao longo de dois milênios de História....
“A
Paz esteja convosco!” É a primeira saudação do Ressuscitado. Como viver a paz
em meio ao “caos” da Família, sociedade, comunidade, será que a Paz tem algum
significado, será que ela é realmente buscada? Não! Da parte do homem nada há
que se possa fazer para se construir a paz... Que não é ausência de guerras e
conflitos, que não é ausência de problemas, isso seria a plenitude, e o ser
humano, com suas limitações e fragilidades, jamais concretizaria o sonho da
paz, mesmo porque, para quem detém algum poder, paz é quando tudo está sob
controle, como era a famosa Pax Romana.
Paz,
no contexto da igreja comunidade, é a presença do Senhor, entretanto, é bom
compreender bem, o que significa a presença misteriosa de Jesus em nosso meio,
pois há muitos que a compreendem como uma espécie de “alívio”. Jesus caminha
com a nossa igreja, então vamos deixar que Ele resolva todos os problemas e dificuldades,
podemos cruzar nossos braços e ficar no aguardo do grande Dia, em que seremos
todos com Ele, arrebatados ao céu....
O
evangelho de João, escrito 90 anos após a ascensão de Jesus, quer ajudar as
comunidades cristãs, daquele tempo e também as de hoje, a perceberem que a Fé
não nasce de uma experiência humana, não é resultado do raciocínio e nem
produto da lógica. O Reino de Deus anunciado por Jesus, não é um reino lá de
cima, sem qualquer conexão com as realidades humanas, é um reino aqui de baixo,
com suas raízes plantadas no chão da história, mas que, apesar disso, não
depende do homem, de suas aspirações ou ideologias, para atingir a plenitude.
Este
homem novo, que não é alienado, mas que também não é só uma realidade carnal e
psíquica, nasceu no “sopro” de Jesus, este homem convocado para viver uma nova
realidade celestial, mesmo em meio ao “caos” estabelecido na humanidade, é que
forma a Igreja dos que crêem, e que não encontrando em si mesmo uma força que
transforme aas relações, sonha, constrói e vai a luta, impelido pelo Espírito
do Senhor Ressuscitado, que vai á frente da sua Igreja, como um General vai á
frente da Batalha, convicto da vitória.
Há
uma missão a cumprir, dificílima e sempre desafiadora, para cada Cristão
Batizado, mas o bom êxito da missão está assegurado, porque é o Espírito do
Senhor, que nos move, anima, direciona e impulsiona. Não importa as nossas
fragilidades, vacilo e indecisões, pois o mais importante é que, como São Tomé,
reconheçamos Jesus como nosso único Deus e Senhor, tudo o mais, inclusive a
tenebrosa força do mal, está abaixo desse Senhorio, a Soberania pertence a
Cristo, e somente a Ele...
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