Comentário do
Evangelho Jo 6,16-21
O evangelho tem como
contexto a situação das comunidades no primeiro século do cristianismo e que
refletem também os primeiros tempos dos discípulos após a ascensão do Senhor. O
medo e a insegurança deles era por causa do acontecimento que desencadeou toda
aquela caminhada, a vida de Jesus de Nazaré, seus ensinamentos, suas obras
prodigiosas, mas que no final resultaram em fracasso com a morte na cruz. Se
antes, caminhando com ele, a história acabou tão mal, agora o risco de um novo
fracasso era ainda maior pois Jesus não estava mais com eles...
Os
cristãos do primeiro século olhavam á sua volta e não viam nenhuma perspectiva
de que o cristianismo fosse dar certo, de um lado o Império Romano, a cultura
grega que exaltava o conhecimento, de outro o Judaísmo e suas raízes. Que
futuro teria a comunidade dos seguidores de Jesus de Nazaré?
Hoje
se sabe que o cristianismo está entre as maiores religiões do mundo, mas a
sociedade não reflete essa realidade, ao contrário, parece que tudo contraria o
evangelho e os cristãos vêem as forças dom mal se fazerem presentes até nas
comunidades. Divisões, discórdias, escândalos, cristãos que desistem de viver a
Fé e fracassam em sua caminhada. A impressão é que as forças do mal imperam na
humanidade e querem engolir a Igreja.
O
que pode um frágil barquinho a mercê de ventos fortes e ondas gigantes? O que
pode a Igreja de Cristo fazer para mudar os rumos da humanidade? O Evangelho
terá poder e força suficiente para reverter esse quadro de tenebrosa escuridão
que nossos olhos contemplam?
São
inquietações que afligem o coração de todos os discípulos. Entretanto, quando
parece que a barca vai a deriva, os homens e mulheres de Fé vislumbram, nos
momentos mais críticos, algo que supera todo mal, Jesus acompanha a barca, e
tem sob os pés as Forças do Mal, isso é, há bem lá na frente um porto seguro
onde a Barca vai chegar. Quando pensamos nessa realidade nova, perceptível á
luz da Fé, sentimos medo mais o Senhor nos tranqüiliza "Coragem, sou eu,
não temais".
Jesus
é o Senhor da História, não é alguém que influenciou a história no passado e
que agora deve ser sempre lembrado por seu exemplo, como fazemos com nossos
homens ilustres, Jesus está vivo, está vivendo com a Igreja cada momento de sua
história, está atento e atuante nas comunidades cristãs, aponta novos rumos e
direção a ser seguido, para se chegar à outra margem...
E
as comunidades de João, com sua Fé e testemunho de Vida, passou incólume pelas
Forças Tenebrosas do Mal e chegou até nós, com o mesmo evangelho, o mesmo
anúncio. Essa é a prova inequívoca da presença de Jesus em nossa Igreja, são
dois milênios de caminhada. O mar não é sereno, nem nunca será, mas as ondas
revoltas e a ventania nada pode contra a Igreja, porque Jesus navega conosco...
Com algumas variantes,
o relato também é comum aos evangelhos sinóticos (Mt 14,22-34; Mc 6,45-51; Lc
8,22-25). À exceção de Lucas, nos outros dois sinóticos, como em João, o
episódio de Jesus caminhando sobre o mar também segue o relato da multiplicação
dos pães. Os elementos simbólicos presentes no texto são o meio de transmitir a
mensagem. No universo simbólico, mar e noite apontam para a realidade da morte.
O mar, na verdade um lago duzentos metros abaixo do nível do mar, era agitado
pelo vento, que formava ondas. Jesus ainda não estava com eles; Jesus é visto
por eles caminhando sobre as águas.
Em
Jó 9,8, nós lemos: “... ele sozinho estende o céu e caminha sobre o dorso das
águas”. Jesus manifesta seu poder divino caminhando sobre as águas. Ele, que é
a luz do mundo (Jo 8,12), ilumina a vida dos discípulos, para arrancá-los do
medo que imobiliza e distorce a visão: “Sou eu. Não tenhais medo” (6,20). A
afirmação de Jesus nos remete ao livro do Êxodo 3,14: “Assim dirás aos
israelitas: ‘Eu sou’ me enviou a vós”. O relato pode ser caracterizado como
sendo uma epifania em que é revelada a divindade de Jesus.
O processo de
reconhecimento de Jesus Ressuscitado foi acontecendo em meio a fadigas e
dificuldades que a comunidade encontrava em seu caminho de fé. Ao professar a
fé no Ressuscitado, os cristãos viam-se questionados de várias formas. O fato
mesmo de fazer a salvação depender de quem fora crucificado deixara-os em
crise.
Segundo
a mentalidade da época, quem morria na cruz, era tido como um amaldiçoado por
Deus. Com Jesus teria sido diferente? Ou será que, de fato, Deus o resgatara da
morte, restituindo-lhe a vida, de modo a estar sempre junto dos seus? Essas e
outras dúvidas persistiam na comunidade de fé, exigindo uma resposta.
A
experiência no lago, por ocasião de uma travessia, revela a situação da
comunidade. A escuridão da noite, a força do vento e a agitação do mar impediam
os discípulos de perceber Jesus se aproximando. Sua figura perdia-se na
nebulosidade. Os discípulos tiveram certa dificuldade para superar a situação.
Por sua vez, o Mestre os exortou a não temer, pois ele mesmo estava ali, junto
deles. "Sou eu; não tenham medo!"- assegurou-lhes, chamando-os à
realidade. A certeza desta presença descortinou-lhes um novo horizonte de
segurança e de tranqüilidade.
A
comunidade de fé reconhece o Ressuscitado, em meio às adversidades da vida.
Importa não se deixar abater, pois ele está no meio de nós.
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