
A pessoa de Jesus está sempre no centro do destino humano: a neutralidade é impossível; por este motivo Ele é tremendamente exigente com seus discípulos. De fato, quando Cristo apresenta sua missão, Ele ocupa o lugar central. Antes de tudo, o evangelista expõe o sentido autêntico da missão de Jesus; em seguida a confirma, mediante a citação profética de Miquéias 7, 6; enfim, as mesmas características são aplicadas aos discípulos.
Em primeiro lugar, o texto de Mateus mostra que, com Jesus, chegou ao mundo o juízo divino, pois Ele mesmo é sinal de contradição que separa e divide em vez de unir.
Anteriormente, vimos que os discípulos deviam pregar a paz do Reino (Mt 10, 13); agora fica claro que isso acontece, porém, através de conflitos e decisões dilacerantes. O símbolo usado por Jesus é a espada de dois gumes da Palavra de Deus que julga as nações.
Trata-se da espada/palavra que penetra profundamente no tecido das relações humanas pervertidas e exatamente aí corta o mal que estraga os homens, pois segundo a profecia de Miquéias 7, 6, “o mal e o pecado” do mundo atingiram todas as relações humanas, até as mais íntimas e familiares.
É interessante notar, porém, que Jesus antes de aplicar aos seus discípulos a expressão profética de Miquéias: “Os inimigos do homem são as pessoas de sua casa”, Ele a aplica a si mesmo. Todo leitor do Evangelho sabe que Jesus veio entre os seus, mas estes não o receberam (cf. Mt 13, 53-58 e Jo 1, 11); os seus próprios discípulos o venderam, negaram e abandonaram; o seu povo, juntamente com seus chefes políticos e religiosos, para condená-Lo e eliminá-Lo da face da terra, fizeram aliança até com os pagãos...
Em segundo lugar, Jesus pede aos discípulos uma adesão total e indivisível à Sua pessoa, exigindo uma “separação” até nas relações mais íntimas, e uma renúncia radical a todas as seguranças possíveis. Com efeito, se antes o discípulo devia superar o medo dentro de si, agora é chamado a superar as relações afetivas e familiares, quando estas podem mantê-lo preso, dificultando dessa forma o anúncio do Evangelho.
Para “ser digno” (expressão repetida três vezes em Mt 10, 37-38) da missão, totalmente disponível, o discípulo não pode ficar preso a nenhum vínculo, nem mesmo ao das ligações de parentesco. O que pode travar efetivamente o anúncio e a missão não é somente a ameaça dos perseguidores, das autoridades ou dos tribunais, ou até o medo diante de uma possível morte violenta.
O autêntico discípulo deve estar pronto a enfrentar também a separação da própria comunidade e da própria família que, evidentemente, o faz sofrer muito. O evangelista deixa transparecer que isso está acontecendo também em sua comunidade: por causa da fidelidade à pessoa de Jesus e à sua mensagem, um irmão se separa do outro, os filhos se separam dos pais, etc. No entanto, a “dignidade” do discípulo aparece em toda a sua clareza e profundidade, quando “carrega sua própria cruz”.
A disponibilidade alcança aqui seu ponto culminante, pelo fato de participar da forma mais plena possível, da mesma experiência de dilaceração e de sofrimento do Mestre. Somente assim o discípulo desempenha sua missão na qualidade de testemunha fiel. Da mesma forma, toda comunidade eclesial que adere a Jesus, assumindo livremente o mesmo destino da Cruz, entra na lógica da gratuidade do Reino, onde os vencidos são vencedores e os que perdem a vida terrena, ganham a vida eterna.
Sergio Bradanini
Um abraço a todos
Deus os abençoe
Pe. Luiz Gilderlane Nogueira
Nenhum comentário:
Postar um comentário