Refletindo Mt 20,1-6
Quem já ficou
desempregado meses a fio a espera de uma vaga, sabe o quanto esta é uma experiência
triste, a reserva financeira vai se acabando, as despesas vão sendo cortadas e
só se mantém o essencial, e se a vaga demora a chegar, até aquilo que é
essencial, como a alimentação, por exemplo, vai começando a rarear.
Não tendo nem o
essencial para dar à família, o desempregado vai aos poucos perdendo a
auto-estima, começa a andar pelas ruas e praças meio sem destino, ou então, o
que é pior, torna-se frequentador dos botecos da vida, onde se joga muita
conversa fora e reclama da situação, tomando “umas e outras” que algum amigo
oferece, um conhecido contou-me que se tornou um alcoólatra quando ficou
desempregado, ficar sem fazer nada não é coisa boa, pois dizem até que “mente
ociosa é oficina do capeta”.
Fiz esta introdução
porque me parece ser esta a situação do pessoal da última hora, mencionado
nesse evangelho, e que deviam estar bem desanimados quando foram para a praça
no final de tarde, jogar conversa fora ou quem sabe, “bater um truquinho”. A
colheita em uma vinha carecia de muita mão de obra e para os desempregados era
uma ótima oportunidade para ganhar uns “cobres”. Nos que buscam uma
oportunidade, sempre há os madrugadores, que acreditam naquele ditado “Quem
madruga, Deus ajuda”, eles botam fé em seu potencial e se colocam a disposição
bem cedo, para serem logo contratados.
Há os que já estão
meio calejados e que dormem um pouco mais, mas às nove horas já estão na praça,
à espera de quem os contrate, pois também se julgam eficientes. Não faltam
aqueles que só acordam para o almoço, mas ouvindo falar que tem vaga na
empreitada, preparam um “miojo”para não perder muito tempo, e vão voando para a
praça, nem que seja ao Meio Dia, pois acreditam que também têm chance. A
notícia corre rápida e chega até a turma do “Ainda resta uma esperança”, que
também animados resolvem arriscar e vão para a praça às três horas da tarde,
dando a maior sorte porque acabaram também contratados.
Mas agora, falemos dos
desanimados, que já estão a tempo vivendo de JURO, “juro que vou pagar”, para
não sucumbirem, assumiram dívidas com o padeiro, açougueiro, leiteiro,
verdureiro, aquele dia para eles já está perdido e então vão para a praça às
cinco da tarde, só para saber se há alguma novidade, e são surpreendidos pelo
Dono da empreiteira, que os interroga, porque estão ali parados, sem fazer
nada... Ninguém nos contratou, não temos nenhum valor, ninguém presta atenção
no nosso sofrimento, ninguém nos confia um serviço, onde possamos ganhar o pão
para o nosso sustento! E foi assim a ladainha de lamentações. A Turma das cinco
nem acreditou, quando o Patrão mandou que fossem para a vinha, juntar-se aos
outros trabalhadores. Certamente pensaram que fossem fazer Terceira turma, mas
às dezoito horas em ponto, soou o apito e a jornada de trabalho acabou,
trabalharam só uma hora, não ia dar nem para o leite e o filãozinho... Pensaram
os trabalhadores. Então veio a surpresa agradável, foram os primeirões a
receber e ganharam uma moeda de prata, que dava para fazer a compra do mês e
ainda pagar umas contas, imaginem a alegria desses trabalhadores de última
hora.
O clima era de festa e
alegria quando a turma dos Madrugadores, profissionais competentes, que deram
duro o dia inteiro, desde o nascer do sol, armou o maior barraco e chamaram o
sindicato, pois não acharam certo receber apenas uma moeda de prata, tinham
plena certeza de que iriam receber muito mais, pois se julgavam merecedores,
mas o Patrão os lembrou sobre o contrato assinado: o pagamento da diária seria
uma moeda de prata.
Na religião de Israel
e no cristianismo de hoje, acontece a mesma coisa, o título de cristãos e o
fato de ser membro de uma igreja, faz com que as pessoas sintam-se
privilegiadas diante de Deus, merecedores de sua graça, do seu amor, das suas
bênçãos e de todos os seus favores, se a pessoa atua em alguma pastoral ou
movimento, então aumenta a obrigatoriedade de Deus atender. Infelizmente é essa
a imagem que muitos fazem de Deus, que sempre surpreende os que buscam
conhecê-lo melhor.
Na parábola em
questão, contratou pessoas sem nenhum valor, e que, entretanto, apesar de terem
chegado muito depois dos Madrugadores, foram alvos da mesma atenção e receberam
o mesmo tratamento. Na verdade, ao invés de sermos a imagem e semelhança de
Deus, muitas vezes projetamos Nele a nossa imagem e semelhança, para que seja
bom com quem mereça, que trate as pessoas a partir dos seus merecimentos, o que
na lógica humana é muito justo.
Porém, o amor e a
justiça de Deus vai sempre buscar os últimos, os renegados, o que não tem mais
nenhuma chance diante da sociedade “perfeita” ou da religião padrão, os que não
têm o que fazer porque ainda não acharam um sentido para suas vidas. Os
desprezados, tratados com frieza e que nunca são levados a sério.
E quando descobrimos
que Deus os ama tanto quanto a nós, que nos julgamos “justos” em vez de
fazermos com eles uma grande festa, manifestando alegria, agimos como o irmão
mais velho do Filho Pródigo: derrubamos o beiço e nos recusamos a entrar na
casa do Pai, isso é, a vivermos na comunhão com Deus, ao lado dos trabalhadores
da última hora, sonhamos com um céu especial e nos frustramos ao ver que o
coração de Deus, cheio de misericórdia, manifestada em Jesus, há lugar para
todos os homens.
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