Comentário baseado no Evangelho Lc 9,18-24
O texto do evangelho deste domingo, conhecido como "profissão de fé de Pedro", seguido do anúncio da paixão, morte e ressurreição, é a sequência do relato da confusão de Herodes que, ouvindo falar de Jesus, não pode conhecer sua verdadeira identidade (vv. 7-9); e do relato da multiplicação dos pães em que Jesus alimenta abundantemente uma multidão de uns cinco mil homens (vv. 10-17).
A dupla pergunta posta
aos discípulos revela a preocupação de Jesus de que sua missão e a sua
verdadeira identidade não estejam sendo compreendidas. O autor do quarto
evangelho apresenta esta preocupação de modo claro: "Vós me procurais não
porque vistes sinais, mas porque comestes e ficastes saciados" (Jo 6,26).
Na primeira parte do
texto há uma dupla pergunta: "Quem dizem as multidões que eu sou?"
(v. 18), e "quem dizeis que eu sou?" (v. 20).
À resposta acerca da
opinião da multidão, Jesus não faz nenhum comentário. A resposta acerca da
opinião da multidão confirma a suspeita de incompreensão. Mesmo que a pessoa de
Jesus suscite perguntas e provoque a opinião das pessoas, a multidão continua
voltada para o passado de Israel, incapaz de perceber e reconhecer a irrupção
da visita salvífica de Deus (Lc 1,68; 7,16). É a vez de os discípulos se
engajarem na resposta à pergunta: "E vós, quem dizeis que eu sou?"
A resposta é mais
importante para os discípulos do que para Jesus. Dela dependerá a adesão ou não
ao Senhor. Pedro, como porta-voz de todos os demais, toma a iniciativa: "O
Cristo de Deus" (v. 20). Isto significa: o Messias prometido e esperado,
aquele que é habitado pelo Espírito Santo (cf. Lc 3,22; 4,1.18).
Jesus impede os
discípulos de divulgarem o que Pedro acaba de proclamar. Isto porque será
preciso esclarecer de que Messias se trata; talvez o Messias que Jesus é não
seja exatamente o que os próprios discípulos pensavam ter encontrado (ver: Mc
8,32-33). Mas também é verdade que cada um deve dar a sua resposta. É neste
ponto que Jesus anuncia, pela primeira vez no evangelho segundo Lucas, sua
paixão, morte e ressurreição (v. 22).
Este anúncio tem
consequências para os Doze como para todos os discípulos. Em primeiro lugar,
eles devem se distanciar da opinião da multidão e se engajarem, na fé, na
verdadeira missão de serviço, e não de poder. Em segundo lugar, o caminho de
Jesus passa a ser o caminho necessário de todos os que aderem, pela fé, e
livremente, à sua pessoa: "Se alguém quer vir após mim, renuncie a si
mesmo…" (v. 23).
A cruz passa a fazer
parte da vida do discípulo. É a forma de superar todo egoísmo que fecha a
pessoa sobre si mesma. Paradoxalmente, a vida é ganha na entrega sem reservas:
"... quem quiser salvar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por
causa de mim a salvará" (v. 24).
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