Comentário
baseado no Evangelho de Mt 6, 19-23.
O ser humano é posto diante de uma escolha decisiva e irrenunciável: onde pôr o coração, isto é, em que engajar toda a vida? Não há meio termo: "... onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração" (v. 21).
Trata-se
de desapegar-se de tesouros ilusórios. Cada coração, cada pessoa, possui um
tesouro. Cada ser humano liga a sua vida a um valor que move sua ação e
decisões. Os bens da terra são postos em oposição aos bens celestes (vv.
19.20), mas o que importa é o engajamento do coração. Ao cristão importa juntar
tesouros no céu (cf. v. 20).
O que
é passageiro é só aparência; é preciso pôr a vida naquilo que não passa. Olho é
uma fonte de desejo (vv. 22-23). Será luz e, portanto, iluminará a vida do ser
humano à medida que o desejo for bom, isto é, por tudo aquilo que for "do
céu". Mas, se o olho desejar o mal, ele conduzirá às trevas, outro nome do
pecado: "Olhar altivo, coração orgulhoso, a lâmpada dos ímpios não é senão
pecado" (Pr 21,4).
A
parábola do tesouro imperecível está calcada numa idéia corrente no judaísmo,
segundo a qual existe um tesouro celeste, não sujeito à corrupção. Imaginava-se
que as boas obras acumulavam crédito, a ser resgatado no dia do juízo final.
Por isso, no AT, o velho Tobias aconselhou seu filho a dar esmolas, segundo
suas posses. Na abundância, deveria ser generoso com os pobres. Na carência,
deveria partilhar do seu pouco. A motivação dada era a seguinte: "Assim
acumulas em teu favor um precioso tesouro para o dia da necessidade".
O
discípulo do Reino ajunta um tesouro no céu, mediante suas boas obras. No
contexto do Sermão da Montanha, estas correspondem ao conjunto de atitudes e
comportamentos compatíveis com os ensinamentos precedentes - Bem-aventuranças e
Antíteses -, e com o que seguirá. O discípulo encontra, neste Sermão, as pautas
de ação correspondentes à vontade do Pai, para as quais está reservada a devida
recompensa.
Deixar-se
guiar por outros parâmetros é pura insensatez. Seria semelhante a ajuntar
tesouros efêmeros, fáceis de serem destruídos e roubados.
O
mais sensato é optar pelos ensinamentos de Jesus e deixar-se guiar por eles,
pois são portadores de recompensa e podem garantir a vida eterna, junto do Pai.
Fora das palavras de Jesus, só existe frustração.
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