Comentário baseado no Evangelho Lc 9,18-24
Quando vamos à
celebração da Palavra ou da santa Missa, quando recebemos algum sacramento,
quando vivemos o nosso dia a dia, rezando em alguns momentos, trabalhando ou
estudando, dirigindo no transito, conectados a internet, assistindo TV, em um
estádio de futebol, em uma chácara ou na piscina, na praia ou no campo, nos
desafios do trabalho pastoral ou no exercício de um ministério, será que a
nossa conduta é coerente com aquilo que pensamos de Jesus?
Jesus não está
preocupado com a sua imagem, ou conceito ou o discurso que se faz dele, mas
quer saber qual a importância dele em nossa vida, nas decisões do dia a dia, em
certas atitudes que somos obrigados a tomar, na vida em família, na comunidade,
no trabalho ou na escola, quando estamos alegres ou tristes, quando estamos
atarefados e com mil preocupações á cabeça, ou quando estamos tranquilos e em
paz, quando estamos endividados ou quando pagamos todas as nossas contas, é aí
que precisamos definir quem é ele em nossa vida, o que ele representa, ou a
diferença que faz, crer ou não crer, viver a Fé ou ignorá-la, assumir ou não
assumir o Batismo, ser igreja ou não ser de nada...
Ir sempre, vestir a
camisa, ou ir de vez em quando e manter um pé atrás, sempre desconfiados com
essa Igreja de Cristo, conduzida por homens. Note-se que a indagação é feita ao
grupo e que podemos interpretar assim: qual é o Jesus de nossas comunidades e
paróquias? Pois é aí que somos Igreja.
O discurso que se faz
sobre Jesus é sempre muito bonito, certos pregadores conseguem arrancar
lágrimas dos seus ouvintes. Mas... e depois... .o que muda ou o que fica? Na
verdade, nesse 12º Domingo do tempo comum, estamos diante de dois modelos
distintos, o Jesus da Pós Modernidade, que é um Jesus bem light, liberal, bem
açucarado, sem muitas exigências, um Jesus que “pega leve” e vai minimizando ou
relativizando a Lei do Senhor e os valores do evangelho, o caráter doutrinário
em questões polêmicas como: pena de morte, aborto, do adultério e todas essas
coisas que nos incomodam.
Um Jesus bem aprumado,
olhos azuis, loiro, dois metros de altura, de um Jesus que pede uma conversão,
que não precisa ser tão radical. Um Jesus que vira e mexe, faz algum milagre,
chamando unicamente para si, a responsabilidade de fazer as mudanças
acontecerem, se a coisa não anda e está emperrada, chama Jesus e está
resolvido. Esse Jesus da Pós Modernidade faz um sucesso tremendo, lota templos,
estoura a audiência, agrega multidões e acima de tudo, ajuda a encher os cofres
dos espertalhões da Fé, que juram serem os emissários de Deus, podendo garantir
ainda nesta vida, um cantinho no céu para os que forem fiéis seguidores desse
“Jesus” idealizado pela Pós-modernidade.
O Jesus que se
apresenta diante dos discípulos e diante de todos nós, neste evangelho do 12º
Domingo do Tempo Comum, não é um Jesus de muito sucesso. Principalmente por que
fala em sofrimento, padecimento, rejeição e morte, uma catástrofe para a Pós
Modernidade, quem vai querer seguir um Jesus assim? Nós mesmos, que somos
cristãos de “carteirinha”, quantas vezes, diante de um sofrimento iminente, não
rezamos, pedindo para que Deus afaste de nós tal dissabor... Não é mesmo?
Sofrimento e pós-modernidade, são palavras que não combinam.
E no final do
evangelho, o que já era ruim, ficou ainda pior: “Se alguém quer vir após mim,
renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz de cada dia e siga-me, pois quem quiser
salvar a sua vida, vai perdê-la, mas quem sacrificar a sua vida, por causa de
mim, irá salva-la”. Com um discurso assim, as Igrejas irão esvaziar-se, e Jesus
vai ficar falando sozinho, porque renúncia e desapego, também não combinam de
forma alguma, com a pós-modernidade, que nos ensina a sempre ganhar, nunca
perder!
Será que não existe aí
uma alternativa? Um modo mais brando de se viver a Fé e frequentar a
comunidade, sem que haja necessidade de encarar uma “cruz” no meio do caminho?
Infelizmente nas palavras de Jesus não há atenuantes, ou aceitamos viver esses
ensinamentos, ou então desistimos, tiramos o time de campo, enquanto ainda é
tempo, mesmo porque, o Reino é uma proposta... “Se alguém quiser...”.
Ninguém precisa casar
na igreja, batizar-se, fazer catequese, ser confirmado na Fé, confessar-se,
receber a Eucaristia, receber o Sacramento da Ordem, ou a unção que nos
fortalece na enfermidade, enfim, ninguém é obrigado a crer no Senhor Jesus e
ser discípulo, e nem por isso Deus irá deixar de amar, aquele que assim agir.
Trata-se de uma proposta, para quem quiser desinstalar o sistema em sua vida,
contaminado pelo hacker do pecado, e reiniciar o processo, agora configurado
com o homem novo Jesus Cristo, o primogênito de toda criatura.
Uma proposta
revolucionária para homens e mulheres ousados, dispostos a transformar o mundo
com o seu testemunho, porque tem forças suficientes na graça de Deus,
mastigando os “freios” da pós-modernidade, libertando-se do cabresto e
trilhando um caminho novo, fazendo uma história nova, exatamente nas pegadas de
Jesus de Nazaré, Aquele que vai á frente das comunidades, mostrando a plenitude
que aguarda todos os que vivem pela Fé, sem medo de Ser Feliz, passando pela
“morte” que leva á Vida.
Deixo para as
comunidades cristãs, essa pergunta que sempre me faço: Que Jesus é o nosso?
Será que podemos anunciá-lo com toda firmeza e convicção, ou como Pedro,
ouviremos dele um solene “cala a boca?” (12º Domingo do Tempo Comum – Lc 9,
18-24)
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