Comentário do Evangelho
João 2, 1-11
O capítulo 62 do profeta Isaías faz parte do que se convencionou chamar, na exegese, trito-Isaías. Escrito no período pós-exílico, o texto apresenta a cidade como esposa, depositária de uma promessa de salvação.
O
evangelho de João deste domingo está situado na parte do quarto evangelho
denominada "livro dos sinais". O nosso relato é, no dizer do
narrador, o "princípio" dos sinais (v. 11), o que nos leva a
compreender que o sinal de Caná é um evento fundador. Trata-se de uma narração
simbólica: ela torna presente algo diferente do que é imediatamente dito e que
lhe serve de expressão. Aqui, o símbolo é mais importante que a materialidade
dos fatos.
O
tema geral é o cumprimento por Jesus da promessa do Antigo Testamento de
abundância de vinho nos tempos messiânicos (Gn 49,10-11; Am 9,13-14). Jesus e
seus discípulos são convidados para uma festa de casamento. A mãe de Jesus
também estava lá. Falar de festa de bodas é evocar não só a Aliança passada
(Noé, Abraão, Moisés), mas a nova, em Jesus, de cuja plenitude todos receberam
graça no lugar de graça (cf. Jo 1,16).
A
festa humana das bodas serve na tradição bíblica de metáfora para a Aliança de
Deus com o seu povo (Os 2,18-21; Ez 16,8; Is 62,3-5). O vinho é dom de Deus
para a alegria das pessoas, e sinal de prosperidade (Sl 104[103],15; cf. Jz
9,13; Eclo 31,27-28; Zc 10,7). É por essa razão que ele será abundante nas
"bodas escatológicas" (Am 9,13; Is 25,6).
Em
Caná, o vinho oferecido por Jesus é superior ao vinho servido primeiro. Graças
à ação de Jesus, a Aliança atinge a perfeição. Por trás das palavras da mãe de
Jesus está Israel, que confia na intervenção divina, espera e vê a promessa de
salvação realizada. O termo "mulher" evoca Sião, representada na
Bíblia com traços de uma mulher, de uma mãe (Is 49,20-22; 54,1; 66,7-11; Jo
16,21).
Como
em nosso relato a noiva não aparece, é a mãe de Jesus que representa Sião, cujo
esposo é Deus. Em razão de sua cor, o vinho era tido como o sangue da vinha.
Daí ele ter se tornado, como o sangue, símbolo da vida. "Eu vim para que
todos tenham vida, e a tenham em abundância", diz o Senhor (Jo 10,10). A
nós, a tarefa de distribuir este vinho da alegria e de oferecer esta vida que é
dom.
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