Comentário do Evangelho
João 2, 1-11
Não sei dizer a razão pela qual faltou o vinho nas Bodas de Cana, talvez a família não tivesse muitos recursos e fez uma festa bem modesta, só para os mais íntimos. Também pode ser que o Encarregado da cozinha, tenha errado no cálculo, ou então, porque havia um número excessivo de “penetras”. Só sei que os convidados das bodas de Canaã ficaram admirados com a qualidade e o sabor inigualável daquele vinho que serviram na última hora, quando muitos já estavam até embriagados. Os discípulos e os que serviam estavam de boca aberta, pois só eles sabiam que todo aquele vinho delicioso fora tirado de seis talhas de barro, cheias de água. Um prodígio promissor para Jesus iniciar seu ministério!
Em
Israel muita gente andava descontente com a religião, porque transformaram o
Deus da Aliança, tão rico em bondade e misericórdia, em um legislador
implacável, alguém frio que passava os dias observando atentamente quem ousava
desrespeitar a lei de Moisés. As pessoas iam ao templo ou nas sinagogas com o
coração pesado, por medo do que pudesse acontecer, se deixassem de observar
alguma das mais de seiscentas leis e prescrições da religião. Existiam para os
faltosos a possibilidade de se livrarem da culpa, cumprindo os rituais de
purificação feitos com água, mas que também era complicado pois naquele tempo
não se tinha a facilidade da água encanada como hoje.
Às
vezes a prática da religião se torna um peso quase insuportável, as vezes ao
receber um sacramento, ou ao término de alguma celebração, há quem dê um
suspiro de alívio “Arre ! já cumpri minha obrigação e estou livre!” para curtir
o domingão. Certa ocasião depois da celebração de crisma, um adolescente em
frente a igreja dava pulos e esmurrava o ar festejando quando alguém perguntou;
“ feliz com a crisma recebida?” . ---Muito feliz --- desabafou o jovem – pois
agora não preciso mais vir à igreja e estou livre!
Para
ir a uma festa, um dia antes já estamos na expectativa, já para ir à igreja,
chegamos na última hora e ás vezes, se a celebração se alongar um pouco, saímos
antes da bênção final pois só temos paciência para agüentar a missa por uma
hora. Precisamos rever o que está errado, nossas liturgias não podem resumir-se
ao “oba-oba” mas temos que lhe dar vivacidade para que as pessoas saiam
convencidas da graça de Deus e cheias de coragem para dar testemunho.
Não
vale a pena praticar esse tipo de religião meramente cultual ! Nas bodas de
canã Jesus, ao transformar a água da purificação em vinho da melhor qualidade,
acabou com essa “chatice religiosa” mas muitos ainda hoje insistem em beber
desse vinho azedo de uma religião angustiante, que bota freios no ser humano e
coloca em seus olhos uma “viseira” para somente enxergar na direção que aponta
os dirigentes “iluminados” sendo terminantemente proibido olhar em outra
direção.
A
verdadeira religião supõe liberdade e uma alegria incontida pelo fato de se
tomar conhecimento de que Deus, apaixonado pelo homem, manifestou o seu amor no
seu filho Jesus, que ao chegar a sua hora, a hora de mostrar a que veio, em um
gesto de loucura aos olhos de muitos, derramou até a última gota do seu sangue
na cruz do calvário, para que nós pudéssemos ser felizes e ter uma vida nova
como homens livres.
É
este o pensamento que deve nortear a nossa relação com Deus no âmbito da
Igreja, uma alegria de saber que ele nos ama tanto, que ele só quer o nosso bem
em seu sentido mais pleno, um amor que nos ama sem exigir nada, sem cara feia,
sem mau humor, sem palavras amargas e sem nenhuma censura – Deus é amor
infinito, bondade eterna e misericórdia para sempre! É essa, portanto, a
novidade que Jesus traz ao mundo nas bodas de canã, ele é na verdade o noivo
apaixonado pela noiva que é a Igreja, assembléia de todos os que crêem. Uma
noiva não muito bela e nem sempre fiel, que às vezes se deixa seduzir por
outros “amantes”
Entendida
e aceita essa verdade, a Palavra de Deus celebrada e proclamada em nossas
comunidades, é uma carta de amor que ouvimos com o coração aos pinotes, e a
eucaristia se transforma em um jantar a luz de velas com Cristo Jesus, o amado
de nossa vida , ao sabor do vinho novo da graça santificante que nos salva e
liberta. Irradiar este amor a todos com o testemunho de vida, é a única forma
de transformar a sociedade e não adianta se buscar outras alternativas, pois
somente assim a glória de Cristo será manifestada semeando a fé no coração dos
descrentes! (2º. Domingo do Tempo Comum João 2,
1-11)
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