Comentário baseado no
Evangelho de Jo 13,31-35
Podemos trocar neste
evangelho, a palavra Glória por Sucesso, que significa ser bem sucedido em
algum empreendimento humano, obtendo o reconhecimento de todos, recebendo as
honras e os elogios, por ter sido o melhor, por ter sido um vencedor. É assim
em uma carreira profissional ou política, é assim no mundo das artes, da
ciência ou do esporte, onde o mais ágil, o mais forte, o mais bem dotado,
sempre vence. Uma vitória traz algo muito buscado por todos que é o poder, e
quem o alcança tem as pessoas á sua disposição, que irão manifestar sempre o
apoio, em uma clara submissão ao seu ídolo. É a glória! Como exclamam felizes,
os que a alcançaram. O ídolo se torna uma referência, uma marca, um estilo de
vida que irá servir de modelo a todos.
Alimenta-se
assim uma verdadeira veneração do Ego do vencedor, que pensa sempre em si
mesmo, em seus interesses, em suas conveniências, que planeja e arquiteta
sempre o que lhe favorece e lhe faz bem, ou em outras palavras; que tem um
“mundo” girando ao seu redor. Em um sistema egoísta que favorece um só ou
alguns felizardos, basta olharmos o modelo econômico corrompido pelo
neoliberalismo, e que mantém na ponta da pirâmide quem chegou lá, por
merecimento ou por mecanismos escusos porque sendo assim, cada irmão ou irmã
torna-se um concorrente que deve e precisa ser eliminado, quando se busca o
sucesso e a fama. O sistema nos faz pensar e agir desta forma e assim, simples
adversários são transformados em inimigos!
Entretanto,
a glória para Deus é o oposto do que é para os homens, porque não tem como
fundamento o egoísmo, mas sim a solidariedade e um modo de amar que o homem
nunca tinha visto ou experimentado antes. Um amor verdadeiro quer construir,
renovar, ajudar o outro a crescer, quer a vida e o bem do próximo, quer vê-lo
livre para tomar decisões sábias, para conquistar seus ideais, construir sua
própria vida e fazer a própria história. Mas tudo isso poderá ter um preço
muito alto, que nem sempre estamos dispostos a pagar, pois o sistema nos
convence de que, qualquer investimento deverá sempre ser feito para nós mesmos
e não para os outros, pois é perigoso ajudar as pessoas a crescerem em
dignidade, amanhã elas poderão ser mais um concorrente.
Esse
modo de pensar e de viver é sempre perigoso, pois pode representar a perda até
da própria vida, é melhor pensar e viver como todos os outros, pois somos
condicionados a vencer, ninguém quer perder, ninguém quer a derrota, ninguém
deseja o fracasso. Não vale a pena dar a vida pelos outros, ninguém irá
reconhecer!
Pois
essa é a glória para Deus, quando pensamos e agimos diferente do mundo, por
causa do evangelho, Deus é glorificado, porque pensamos e agimos exatamente
como o Filho Jesus. Por essa razão que neste evangelho, exatamente quando
começa a delinear-se um aparente fracasso do ideal do reino, proposto por
Jesus, com a traição de Judas, o Mestre anuncia que o Filho do Homem foi
glorificado e que Deus foi glorificado nele. Ao ser glorificado pelo Filho, que
não pensa e não age conforme o sistema marcado pelo pecado do egoísmo, mas sim
pelos valores do Reino, o Pai o glorificará quando chegar a sua hora, a hora da
cruz, que será aparente fracasso para os homens, mas a gloria para Jesus,
provavelmente é este o sentido do ensinamento que ele faz aos seus discípulos na
citação “quem perder a sua vida por causa de mim, irá ganhá-la”.
Mas
como percorrer um itinerário tão desafiador, que vai na contra mão do sistema
opressor e explorador? Onde poderá o discípulo encontrar força para seguir o
Mestre e trilhar esse mesmo caminho? Na segunda parte deste evangelho Jesus
deixa\aos discípulos o seu legado e o seu testamento, que é dado na forma de um
mandamento novo “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”. Esse amor é
muito mais que um sentimento, muito mais que uma virtude, esse amor é o próprio
Deus, que tem a força renovadora, única capaz de transformar a tudo e a todos,
dando-nos um novo céu e uma nova terra, levando o homem a seu destino glorioso
junto a ele. Quem ama como Cristo nos amou, e não tem medo de perder, já
antecipa em sua vida um pouco deste novo céu e desta nova terra! Que nossas
comunidades sejam assim! Amém. (V Domingo da Páscoa Evangelho João 13,31 -33..
34-35)
Nenhum comentário:
Postar um comentário