Comentário baseado no
Evangelho de Jo. 14,23-29
O trecho do evangelho
deste domingo é parte do discurso de despedida de Jesus (13,31–14,31).
Trata-se, aqui, de encorajar os discípulos para que não desanimem ante as
perseguições, paixão e morte de Jesus. A paz que o Senhor oferece para a missão
e a constância dos discípulos é a sua própria vida, pois ele é o “fazedor de
paz” (Mt 5,9), o “príncipe da paz” que, entrando em sua cidade, Jerusalém,
reconciliou pela sua entrega a humanidade com Deus.
A
paz é um dos primeiro dons do Cristo Ressuscitado. O Senhor promete a sua
volta: “Voltarei a vós” (Jo 14,28). Não se trata de retorno à vida terrestre. A
missão do Espírito Santo é tornar o Cristo presente a nós e sua palavra viva em
nós. No Espírito Santo, a partida de Jesus não é sentida como ausência, pois ele
estará conosco “todos os dias até os fins dos tempos” (Mt 28,20). O Espírito
Santo, dom de Deus, não permite que a palavra de Jesus fique sem sentido ou
caia no esquecimento; o Sopro de Deus em nós ensina e recorda tudo o que Jesus
disse.
A
fé é necessária para manter viva em nós a Palavra do Senhor e não sucumbirmos
diante das dificuldades na realização da missão, que é participação na missão
daquele que, enviado pelo Pai, passou por este mundo fazendo o bem, sofreu a
paixão e morreu crucificado, mas ressuscitou ao terceiro dia.
O
Apocalipse, livro escrito em fins do primeiro século, busca encorajar os
cristãos a permanecerem firmes na fé e a guardarem a palavra de Cristo em meio
à perseguição. A Igreja, lugar da habitação de Deus, é iluminada pelo Senhor: “A
cidade não precisa de sol nem de lua que a iluminem, pois a glória de Deus é a
sua luz, e a sua lâmpada é o Cordeiro” (Ap 21,23). A Igreja, fiel ao Senhor,
não tem o que temer, pois o Senhor está no seu meio qual uma luz. Sob essa luz
nenhum mal pode se esconder, e não há o que possa levá-la a tropeçar. A luz de
Deus e do Cordeiro desvela as armadilhas do mal, as falsas doutrinas que buscam
se impor como verdadeiras e necessárias.
A
questão sobre a circuncisão dos pagãos, como, queriam alguns, necessária para a
salvação, leva os apóstolos a darem uma resposta apostolicamente criativa e
teologicamente brilhante. É um duplo problema que está presente na questão
apresentada: o da unidade da Igreja e o da salvação. Para a unidade da Igreja é
fundamental a aceitação da diferença – a unidade só é possível por causa da
diferença. Em segundo lugar, não é a Lei que salva, mas a fé em Jesus Cristo.
Que
neste dia, o primeiro da semana, sejamos iluminados para que todos os demais
dias sejam vividos neste mesmo clarão.
Pensando
em sua ausência futura, Jesus tomou providências para que os seus discípulos
não se sentissem abandonados, ao se verem entregues à missão, sem a presença
física de seu Mestre. Esta sua falta, no entanto, haveria de ser compensada com
a presença do Paráclito - o Defensor - que daria continuidade ao papel
desempenhado por Jesus, junto aos discípulos.
O
Paráclito iria ensinar-lhes todas as coisas, outrora transmitidas por Jesus, e
recordar-lhes todas as orientações transmitidas. Ou seja, assumiria a função
magisterial, antes desempenhada pelo Mestre. Os discípulos não teriam
necessidade escolher um dos membros do grupo como mestre dos demais. Todos
continuariam a ser discípulos do Mestre Jesus, pela mediação do Paráclito.
Por
conseguinte, não deveriam esperar novidades por parte do Paráclito. Sua missão
consistiria em fazê-los compreender, sempre mais e melhor, o que já havia sido
transmitido por Jesus, mas, quiçá mal assimilado. O Espírito Santo iluminaria,
aprofundaria e atualizaria as palavras do Filho de Deus, nos contextos plurais
de desempenho da missão. Em cada circunstância concreta, as palavras do Senhor
haveriam de revestir-se de apelos novos, pela luz oferecida pelo Paráclito.
O
discípulo não pode dispensar o auxílio do Paráclito se deseja conservar sua
fidelidade ao Senhor.
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