Comentário do Evangelho
de Jo. 15,9-11
Estamos
habituados a pensar no amor como um sentimento que nos obriga a retribuir de
alguma maneira ao amor de quem nos ama, e que tem suas razões de ser. Olhamos
para Jesus, o Filho de Deus e poderíamos nos perguntar, que razões Jesus dá
para que o Pai o ame...
Mil
razões... Jesus merece ser amado pelo Pai, é Filho Fiel, obediente, que
prioriza a Vontade do Pai, que se move a partir do Pai, que se aniquila, se
rebaixa e se deixa esmagar, para cumprir toda a Vontade Daquele que o
enviou....Um Filho assim, que dá todas as razões para ser amado, todo mundo
queria ter um... que fosse desse jeito. Sendo bom, fiel e justo, santo e
perfeito, Jesus pode contar com o Amor do Pai, que é sempre intenso e
grandioso. Enfim, podemos concluir com nossa lógica humana, que o Pai o ama
porque Ele de fato é bom...o Amor de Deus pelo Filho Jesus é real, concreto,
verdadeiro, sem dúvida alguma...
Neste
evangelho, ao falar com seus discípulos sobre esse amor, Jesus afirma algo que
desnorteia a todos: Assim como o Pai me ama, eu também vos amo! Assim... desse
mesmo modo... do mesmo jeito, com a mesma intensidade . Que motivos damos todos
os dias para que Deus manifeste todo esse amor por cada um de nós? Certamente
nenhum...
Mas
há duas palavras chaves, duas recomendações de Jesus neste evangelho, a seus
discípulos de ontem e de hoje. Perseverar e ser constante no amor de Cristo. Só
há um modo de ser constante e perseverante nesse amor: é guardar os mandamentos
que Jesus nos deu...Se antes, a perseverança e a constância para com Deus,
dizia respeito á observância da Lei, agora o amor é a Lei...
Não
somos amados porque somos bons, ou porque, de algum modo damos motivos para que
Deus nos ame. Não há razão para que Deus nos ame desse jeito tão apaixonado...
E o amor ao próximo, com essa mesma intensidade é a maneira que o discípulo
tem, de corresponder a este amor Divino.
A fonte do amor é o Pai
Nosso texto é sequência
da parábola da vinha (15,1-8). Tal parábola dá o apoio simbólico para a segunda
parte do discurso (VV. 11-17), que é, podemos dizer, uma meditação sobre o amor
tipicamente cristão. O amor é o fruto esperado de quem permanece unido à
videira. A parábola é um apelo à unidade do discípulo com o seu senhor: “...
permanecei em mim e eu permanecerei em vós … Aquele que permanece em mim, e eu
nele, dá muito fruto” (VV. 4.5b).
A
fonte do amor é o Pai (cf. v. 9). O autor da Primeira carta de João diz que
“Deus é amor” (1Jo 4,16). O Pai ama criando, gerando a vida, entregando o
próprio Filho: “Deus amou tanto o mundo que enviou o seu Filho único” (Jo
3,16). É com esse mesmo amor que o Filho, a verdadeira videira, amado pelo Pai,
nos ama: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo”
(13,1). Uma das características do discípulo é que ele é aquele que “permanece”
no/com seu Senhor. “Permanecer” é estar arraigado, profundamente unido, a tal
ponto de poder viver o mesmo dinamismo do amor. Já o dissemos mais acima, o
amor não é ideia; ele engaja a pessoa amada e a que ama num compromisso
profundo: “Se observardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor” (v.
10).
O
amor assim entendido é o caminho da verdadeira felicidade. Esta é a finalidade
de todo o discurso: “Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós,
e a vossa alegria seja completa” (v. 11). Mas não nos esqueçamos de que esta
alegria é alegria de Cristo, portanto, dom.
O
amor que Jesus nutriu por seus discípulos é reflexo do amor que ele mesmo
recebeu do Pai. Amor eterno, permanente, total, exclusivo. Amor sem imposição
ou pré-requisitos. Amor absolutamente gratuito. Foi assim que Jesus amou os
seus, tal como aprendera na escola do Pai.
A
exortação que Jesus dirigiu aos seus - "Permaneçam no meu amor!" -
tem duas vertentes. A primeira refere-se ao relacionamento Jesus-discípulo, a
segunda, ao dos discípulos entre si.
O
discípulo ama Jesus com o mesmo amor com que é amado por ele. Aqui não há lugar
para relacionamentos interesseiros, como os de muitos cristãos que fazem
consistir sua fé na busca contínua de favores divinos. Nem há lugar para
atitudes de temor, como acontece com quem se julga estar sempre a ponto de ser
punido por Deus. O puro amor a Jesus vai além dessas deturpações.
No
relacionamento com os seus semelhantes, o discípulo oferece amor idêntico ao
que recebe de Jesus. Não exige nada em troca. Não procura enquadrar o outro em
seus esquemas preconcebidos. Não estabelece limites. Pelo contrário, acolhe o
outro como ele é, oferecendo-lhe o melhor de si, possibilitando-lhe o
crescimento, a fim de que possa realizar-se plenamente.
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