João 14,1-6
No evangelho de João
estamos diante de um Jesus que fala muito, os discursos ocupam a maior parte, é
sempre bom lembrar que os escritos Joaninos situam-se mais ou menos nos anos
90, quase final do primeiro século, marcado por intensa perseguição aos cristãos.
O
quadro que se apresenta é de insegurança e perturbação, certamente o grupo dos
discípulos também viveu essa mesma experiência nos dias que antecederam a
paixão e morte do Senhor, no coração dos pobres e simples, os ensinamentos de
Jesus eram bem acolhidos, mas nas Lideranças Religiosas, ao contrário, a
rejeição e a incredulidade eram evidentes.
As
comunidades do final do primeiro século também estão inseguras, todos se
perguntam que destino terá o Cristianismo iniciado pelos discípulos de Jesus,
como sobreviver em um ambiente tão hostil ao evangelho, onde os cristãos são
considerados membros de uma seita perigosa ao sistema.
Os
cristãos têm consciência da missão que fora confiada á igreja, pelo próprio
Senhor, mas por outro lado sentem-se impotentes e nada podem fazer para
reverter o quadro.
Nossas
comunidades cristãs neste terceiro milênio, embora em outro contexto vivem o
mesmo drama, o que fazer diante de um mundo cada vez mais hostil ás coisas de
Deus Pai ? Como agir em uma sociedade que ainda não conhece de fato a Jesus
Cristo, seu Reino e seu evangelho. Filipe não conhecia o Pai, e hoje em nossas
comunidades, muitos também não conhecem a Deus, fazendo dele uma imagem
distorcida.
Muitos
vivem em comunidade, recebem um Batismo, tem contato com Deus nos Sacramentos,
ouvem a Deus na Palavra, comungam Deus na Eucaristia, mas não sabem ao certo
quem é Deus, e essa fé em Jesus nem sempre os faz ser, pensar e agir diferente.
Crêem em Jesus mas não o aceitam como Senhor de suas Vidas, aliás, nem admitem
que ele interfira em suas vidas, é a chamada Religião onde as pessoas se
"sentem bem", sem qualquer compromisso com a moral ou ética, Tomé não
conseguia ligar Fé e Vida, sua relação com Deus se fundamentava em revelações e
manifestações grandiosas através do messianismo de Jesus. Ele não consegue
pensar em um Reino que irá acontecer em definitivo,algo que só Jesus sabe o
caminho, e que vai muito além de qualquer Reino terreno, por isso irá dizer a
Jesus "Senhor, mostra-nos o caminho" . "Eu sou o caminho, a Verdade
e a Vida".
O
caminho é bem conhecido, não podemos dar a mesma desculpa de Tomé "Senhor,
não sabemos para onde vais"! Não sabemos o que fazer, ou que estilo de
vida adotar enquanto cristãos. Essa é uma desculpa esfarrapada demais, o nosso
caminho é o mesmo de Jesus, é o caminho do serviço, percorrido sempre com amor
e entusiasmo, ainda que diante de nós, tenhamos muitas vezes as cruzes dos
fracassos, o tormento das nossas limitações.
A
Fé no Pai que se revelou em Jesus, aquele a quem seguimos, sempre nos reanima
as forças, nos faz olhar á frente e seguirmos adiante, para uma Vida além de
tudo o que hoje vemos, sentimos e somos. Esse lugar que já está reservado ao
homem de Fé, é ao lado de Deus, para isso Ele nos fez e nisso consiste a
Salvação... Ele já está a disposição, ainda nesta vida, para quem se dispuser a
Ser Discípulo Fiel de Jesus.
“Não se perturbe o vosso coração”
O discurso do capítulo
14 de João é a sequência do relato da última ceia, em que Jesus lavou os pés
dos discípulos e predisse a traição de Judas Iscariotes (13,1-30). Trata-se de
um longo discurso de despedida que começa em 13,31 e vai até 14,31. O discurso
é interrompido pelas intervenções dos discípulos (vv. 5 [Tomé], 8 [Filipe] e 22
[Judas]), que fazem avançar o discurso. O discurso visa encorajar os discípulos
para que não desanimem diante da paixão e morte de Jesus; os versículos 1 e 27
mostram isso: “Não se perturbe o vosso coração”. De fato, o medo, a
perturbação, a frustração são ameaças à unidade. O medo dispersa, leva a
abandonar os passos, projetos.
À
exceção de Maria, mãe de Jesus, Maria Madalena, Maria de Cléofas e o discípulo
que Jesus amava (19,25-27), os outros fugiram.
No
entanto, só há um meio de vencer o medo, pela fé: “Credes em Deus, crede também
em mim” (v. 1). É a fé que permite não esmorecer; é a fé que possibilita manter
viva a palavra do Senhor em nós. Somente a fé pode fazer compreender que a
partida de Jesus não é abandono. Os discípulos são convidados a fazer uma
verdadeira Páscoa: do medo à fé; da perturbação à paz. O que é prometido (cf.
v. 3) deve sustentar esse êxodo.
O
discípulo do Ressuscitado vê-se confrontado com duas situações que, se mal
compreendidas, poderão ser causa de perturbação. Por um lado, tem diante de si
um projeto, cujas exigências e conseqüências são preocupantes: pautar a própria
vida pelo ideal do Reino, num mundo hostil e refratário ao amor, tem um preço a
ser pago. Por outro lado, o discípulo pergunta-se pelo fim de tudo isto, pela
meta para onde caminha. O sentido da caminhada e o ânimo com que ela é feita,
dependem de uma certa lucidez. Caso contrário, o discípulo deixar-se-á vencer
pelo desânimo.
Jesus
tomou a iniciativa de tranqüilizar os discípulos, apelando para a fé:
"Assim como vocês acreditam em Deus, acreditem também em mim". Suas
palavras elucidavam as dúvidas que povoavam o coração deles. Acolhidas na fé,
essas palavras surtiriam o efeito tranqüilizador desejado.
Para
os discípulos, abriu-se uma perspectiva de comunhão escatológica com o Pai.
Simbolicamente, Jesus referiu-se à casa com muitas moradas. O vocábulo casa
evoca afeto, convivência, intimidade. As muitas moradas significam a disposição
do Pai para acolher a todos, sem exceção. Quem chegar na casa do Pai, será
recebido por ele.
Esse
lugar de acolhida será preparado por Jesus, o qual precederá os seus discípulos.
Com uma tal certeza, pode-se deixar de lado todo receio. Basta seguir o caminho
aberto por Jesus.
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