Comentário baseado no
Evangelho de Jo 13,31-35
O
texto dos Atos dos Apóstolos relata a missão de Paulo e Barnabé entre os
pagãos. A missão itinerante de ambos visa encorajar os discípulos a
permanecerem firmes na fé, não obstante perseguições e sofrimentos (cf. v. 22).
A comunidade primitiva vai se organizando com o fim de cuidar daqueles que
abraçavam a fé (cf. v. 23). A Igreja que nasce do mistério pascal de Jesus
Cristo é impulsionada pelo Espírito Santo para fazer com que a Boa-Notícia da
salvação ultrapasse os limites de Israel: a “porta da fé” é aberta aos pagãos
(cf. v. 27).
O
evangelho é a sequência imediata da última ceia de Jesus com os seus discípulos
(Jo 13,1-30). A última ceia, segundo o evangelho de João, foi o lugar do gesto
simbólico do lava-pés, em que os discípulos são chamados a tirar as
consequências dos gestos para a própria vida e a “imitar” o Mestre (cf.
13,12-17). Aí, na mesa da comunhão, é anunciada a traição de Judas (13,21-30).
Os
versículos que nos ocupam são o indício de um longo discurso de despedida
(13,31–14,31). A saída de Judas, à noite, do lugar da ceia, desencadeia o
discurso que é instrução e revelação. Em Jesus, Deus revelou a sua própria
glória.
A
glorificação do Filho está, em primeiro lugar, na sua paixão e morte por amor –
esta é a glorificação de Deus pelo homem, e do homem por Deus. É à paixão e
morte que a glorificação se refere (cf. v. 33). Deus é glorificado na entrega
do Filho por amor (cf. 13,1).
O
mandamento do amor é a expressão máxima da vida cristã. Em que ele é novo, uma
vez que já se encontra prescrito pela Lei (Lv 19,18.34; Dt 10,19)?
A
identidade dos discípulos é dada pelo mesmo dinamismo que levou o Senhor a
entregar-se por nós: “Nisto conhecerão que sois os meus discípulos: se vos
amardes uns aos outros” (v. 35). A medida do amor fraterno é o amor de Cristo:
“Como eu vos amei” (v. 34).
O
amor não é uma ideia, nem se reduz a nenhum “sentimento”, mas é um movimento de
entrega que faz o outro viver, que gera vida: “Sabemos que passamos da morte
para a vida porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte” (1Jo
3,14). A Igreja, “morada de Deus com os homens” (Ap 21,3), deve ser a imagem do
Deus que acolhe, que se entrega e faz viver plenamente.
A
profissão de fé no Cristo Ressuscitado incide, diretamente, na vida do
discípulo. Ela não é um discurso vazio, uma abstração intelectual, nem tampouco
uma bela teoria. A fé consiste em acolher Jesus de tal forma, que toda a
existência do cristão passe a ser moldada por esta opção. E o molde da vida
cristã é a vida de Jesus. Seu distintivo é o amor mútuo.
Estando
para concluir o ciclo de orientações aos discípulos, o Mestre resumiu tudo
quanto havia ensinado, num único mandamento, chamado de mandamento novo:
"Amem-se uns aos outros, como eu amei vocês". A prática do amor mútuo
é a expressão consumada da fé em Jesus. Não existe fé cristã autêntica, se não
chegar a desembocar no amor.
Não se trata de um amor qualquer. O modelo é: amar como Jesus amou as pessoas, a ponto de entregar a própria vida para salvá-las.
Não se trata de um amor qualquer. O modelo é: amar como Jesus amou as pessoas, a ponto de entregar a própria vida para salvá-las.
O
verdadeiro discípulo distingue-se pelo amor. Quanto mais autêntico e radical
for este amor, mais revelará o grau de sua adesão a Jesus.
A
capacidade de amar-se mutuamente indica o quanto Jesus está agindo na vida do
cristão. A presença salvadora de Jesus tem o efeito de desatar o nó do egoísmo,
que afasta os indivíduos de seus semelhantes e, por conseqüência, de Deus
também. O cristão, salvo por Jesus, manifesta a eficácia desta salvação na
vivência do amor.
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