sábado, 30 de março de 2013

O SENTIDO VERDADEIRO DA PÁSCOA




A palavra Páscoa tem sua origem no hebraico “Pascha” que significa passagem, e no Judaísmo está contextualizada no fato histórico ocorrido em 1250 A.C que foi a libertação do povo hebreu da escravidão do Egito. A narrativa encontra-se no livro do Êxodo, que pertence ao Pentatêutico, conjunto dos cinco primeiros livros da Sagrada Escritura, cuja autoria é atribuída a Moisés. O ritual da páscoa judaica segue as determinações dadas pelo próprio Deus ao Sacerdote Aarão conforme Êxodo 12, 1-8.11-14 e o fato histórico, com esse caráter religioso, tornou-se para o Povo um memorial da noite em que Deus os libertou da escravidão do Egito, através de Moisés, derrotando o império do Faraó.Anteriormente a páscoa era uma Festa dos Pastores, que comemoravam a passagem do inverno para a primavera quando por ocasião do degelo, e surgindo a primeira vegetação à luz do sol, os animais deixavam suas tocas, sendo essa a origem do Coelhinho da Páscoa e do ovo, que ao ter a sua casca quebrada deixa romper a vida que há dentro dele.
A libertação do Povo da escravidão do Egito é o acontecimento mais importante na tradição religiosa de Israel que o tornou um memorial celebrado no ritual judaico, preceito estabelecido pelo próprio Deus, muito rico em sua simbologia.Trata-se de uma refeição feita em pé, com os rins cingidos, sandálias nos pés e o cajado na mão, como quem está de partida “comereis as pressas, pois é Páscoa do Senhor”. O sangue do Cordeiro imolado irá marcar o batente das portas dos que iriam ser salvos do anjo exterminador, e as ervas amargas lembram a escravidão e o sofrimento que o povo passou.
Jesus de Nazaré, filho de Maria e de José, tendo passado pelo rito iniciático do Judaísmo, freqüentava o templo e a sinagoga, como qualquer judeu fervoroso. Não era sua intenção fundar uma nova religião, mas sim resgatar a essência na relação dos homens para com Deus, que o judaísmo havia perdido por causa do rigorismo do seu preceito e dos seus ritos purificatórios. O fenômeno do messianismo era muito comum naquele tempo, como hoje quando surgem a cada dia novos pregadores em cada esquina, mas somente Jesus é o verdadeiro e único messias, aquele que fora anunciado pelos profetas, o Ungido de Deus, descendente da estirpe de Davi, o grande Rei porém, na medida em que Jesus vai manifestando quem ele é, e o seu modo de viver, convivendo com os pecadores impuros, curando em dia de Sábado e fazendo um ensinamento novo que estabelecia novas relações com Deus e com o próximo.
Tudo isso foi gerando um descontentamento nas lideranças religiosas que de repente começaram a vê-lo como uma séria ameaça a estrutura religiosa existente, e a expulsão dos vendedores e cambistas do templo foi a gota dágua que faltava para à sua condenação, sendo dois os motivos que o levaram à morte: o primeiro de caráter religioso, pois ele se dizia Filho de Deus e isso constituía-se uma blasfêmia diante do judaísmo, o segundo de caráter político, Jesus veio para ser Rei dos Judeus, representando uma ameaça ao augusto Cezar Soberano do império Romano.
O Povo esperava um Messias Libertador político para restaurar a realeza em Israel, que se encontrava sob a dominação dos romanos. É essa a moldura histórica dos fatos que marcaram a vida de Jesus, nos seus três anos de vida pública, desde que deixara a casa de seus pais em Nazaré e dera início as suas pregações tendo formado o Grupo dos discípulos.Logo após sua morte e ressurreição, nas primeiras comunidades apostólicas (dirigidas pelos apóstolos) se perguntava por que Jesus havia morrido? Nas reuniões que ocorriam aos domingos, porque Jesus havia ressuscitado na madrugada de um Domingo, os apóstolos faziam a Fração do Pão, recordando tudo o que Jesus fez e ensinou, concentrando suas pregações na morte e ressurreição. E assim começou-se a se fazer as primeiras anotações sobre Jesus e mais tarde, entre os anos 60 e 70, surgiram os evangelhos que revelavam, não só porque Jesus havia morrido, mas também como e onde havia nascido e de como vivera a sua vida fazendo o bem, anunciando um reino novo sempre na fidelidade e obediência ao Pai e no amor aos seus irmãos.
A Ressurreição de Jesus é um fato apenas compreensível e aceitável à luz da Fé, que é um dom de Deus concedido aos homens, pois o momento da ressurreição não foi presenciado por ninguém e o que as mulheres viram, segundo o relato dos evangelhos sinópticos, foram os “sinais” da ressurreição: túmulo vazio, os panos dobrados e colocados de lado, e ainda um personagem que dialoga com Madalena, confundido por ela com um jardineiro, que anuncia que Jesus de Nazaré não estava mais entre os mortos porque havia ressuscitado.As mulheres tornaram-se desta forma as primeiras anunciadoras da ressurreição aos apóstolos. Outra evidência foram as aparições de Jesus Ressuscitado aos seus discípulos, reunidos em comunidade conforme relato do livro do Ato dos Apóstolos. Não se tratam de aparições sensacionalistas para causar impacto e evidenciar a vitória de Jesus sobre os que conspiraram a sua morte, mas sim de um Deus vivo e solidário com os que nele crêem, para encorajar a comunidade dos apóstolos, que tiveram a princípio muita dificuldade para vencer o medo e descrença, que abateu-se sobre eles com a morte de Jesus.
A Ressurreição de Cristo está no centro da Fé cristã, que é, segundo o pensamento Paulino, a garantia de nossa ressurreição, que não pode e nem deve ser compreendida como uma simples volta a esta vida porque se trata de uma realidade sobrenatural entendida e aceita pela Fé, e não de um fato científico. O Cristo Ressurrecto apresenta um corpo glorioso! É este o destino feliz dos que crêem e vivem essa esperança que brota da Fé, pois a Vida venceu a morte!
Celebrar a Páscoa é celebrar esta Vida Nova de toda a humanidade, que irrompeu da escuridão do túmulo com o homem Jesus de Nazaré. É a passagem do pecado para a graça de Deus, das trevas para a luz, da Morte para a Vida , porque o espírito Paráclito que Cristo deu à sua igreja no dia de Pentecostes, tudo renova e permite que, caminhando na Fé, já desfrutemos, ainda que de maneira imperfeita, dessa comunhão íntima com Deus, no Cristo glorioso que nos acompanha nessa jornada terrestre, e que nos acolherá um dia na plenitude da Vida Eterna.


Uma feliz Páscoa a todos!
Um abraço: Pe. Luiz Gilderlane

A Semente plantada em um jardim, tornará realidade o Sonho de Deus




Além de ótimo Teólogo, São João Evangelista era também poeta, aliás, o amigo Alex, professor de Teologia Moral sempre diz que Poesia e Teologia tem tudo a ver, com certeza porque ambas falam ao coração. Neste evangelho da Paixão do Senhor, João remonta ao Jardim do Eden onde começou o desígnio de Deus a respeito do homem, Deus plantou a humilde semente chamada Adão, como na parábola dos vinhateiros cuidou dela com todo amor e carinho, colocou em seu redor a melhor terra, protegeu-a com muros, fez uma torre de Vigia, preparou um lagar onde essa uva de primeira qualidade se tornaria o vinho inebriante e inigualável das Bodas de Caná, mas a uva ali produzida, em vez de doce tornou-se amarga... Como um lavrador sábio e paciente Deus se recolheu a seu canto, aparentemente abandonando a plantação que foi invadida e pisoteada pelos animais. Entretanto Deus esperou o tempo oportuno para de novo plantar a semente e esse tempo da plenitude chegou, com a encarnação do seu próprio Filho Jesus Cristo.
O evangelho de hoje, contrapõe tristeza e alegria, derrota  e gloria ,  tragédia pleno êxito, João conta os fatos as avessas,olhando precisamente com os olhos de Deus. podemos ilustrar a reflexão dizendo que João  se comporta como aquela mãe, que sentada em sua cadeira preferida faz paciente o seu bordado á mão, nós homens somos como a criança que olha por baixo e vendo o bordado as avessas não entende como a mãe se dedica a um trabalho que não tem nada de bonito.
Que pode haver de belo nessa narrativa da paixão do Senhor, em uma ceia marcada por momentos de tensão, a traição de Judas, o anuncio da negação de Pedro, a prisão de Jesus no Horto das Oliveiras, as falsas testemunhas diante do Sumo Sacerdote, e finalmente a sua caminhada até Pilatos de onde saiu açoitado, massacrado, com a cruz aos ombros até o alto do morro onde iria ser pregado no madeiro, e padecer um a morte horrível, vergonhosa e humilhante?????  
A Cristologia de João é alta e ele vê assim, de cima para baixo, e enxerga a beleza do amor de Deus manifestado plenamente em Jesus Cristo, que refaz em si Adão e nós todos, iniciando a nova criação, não mais subordinada ao Mal mas livre para tomar decisão,  contrária as forças do mal... 
No Jardim da torrente de Cedron tem início a tragédia e o inicio de uma Vitória definitiva, ao mesmo tempo, quando Judas vem até o Mestre acompanhado de seus inimigos  para prendê-lo. Olhando por baixo do bordado, podemos dizer que o sonho do novo Reino começa ali a se desfazer, porém, nosso irmão João Evangelista não pensa assim, podem reparar na postura de Jesus...
"Consciente de tudo o que iria acontecer, saiu ao encontro deles.... A quem procurais?" Jesus poderia ter pedido ajuda aos discípulos, se esconder para dentro da mata, fazer uma oração forte ao Pai para acabar com os seus perseguidores. Mas não! Livremente vai ao encontro do seu destino, ninguém o prende, Ele se entrega. "Recuaram e caíram por terra..." A liberdade, a decisão e a firmeza que eles vêem em Jesus os surpreende fazendo-os cair por terra. É Jesus quem novamente toma a iniciativa, é ele quem está no controle "A quem procurais?"  e eles responderam "A Jesus de Nazaré!" 
Aqui nota-se como é grande o amor de Jesus pelos seus, não porque intercedeu por eles, para que os soldados o deixassem ir em paz, mas porque deu a cada um deles a liberdade de decidir, de que lado queriam ficar... Pedro queria ficar com Ele, mas do seu modo, armado de uma espada e tentando resolver a situação pela violência. É o pensamento humano da pós-modernidade que Pedro ali representa. Que solução a maioria das pessoas propõe, para resolver o problema da violência nas grandes metrópoles? Exatamente com mais violência, quando a sociedade depara nos noticiários sensacionalistas da TV muitos corpos de marginais mortos na invasão do morro, ou quando há algum massacre em um grande presídio, a população vibra e sente-se de certa forma "vingada". Somos todos da mesma opinião de  Pedro, de que a violência combate a violência. Para nossa decepção Deus não pensa assim pois a atitude de Jesus mandando o velho Pedro guardar a espada, manifesta isso claramente. 
O episódio dramático e trágico tem o seu desfecho em um outro Jardim onde Jesus, pelo gesto piedoso de José de Arimatéia, irá ser sepultado. Agora a mãe terra receberá a semente definitiva do Novo Reino. Os que mataram Jesus pensavam que o estavam esmagando e que tinham acabado com ele de vez, nem imaginavam que apenas colaboravam na semeadura de um Reino que iria superar todos os Reinos do Mundo. José de Arimatéia e Nicodemos é o cristão paciente que ainda crê, apesar da grande tragédia que se abateu sobre eles, e porque creem se dispõe a "plantar a semente" esmagada, triturada, no seio da terra, alimentando no coração a esperança de que algo de novo vai acontecer, a história há de ter um final feliz. 
Que destino aguarda a humanidade? De tragédia em tragédia, e por conta de uma violenta crise de valores e decadência moral, o homem se arrasta para o caos das trevas sem nenhuma luz. Será que Deus abandonou a humanidade? Uma grande maioria, inclusive de cristãos, perderam a esperança e fazem da religião do Cristianismo apenas um consolo para as dores e decepções desta vida, fechando-se em suas comunidades ou grupos, sentindo-se protegidos do terrível mal que aflige a humanidade....José de Arimatéia pensa diferente, ele entra no Palácio de Pilatos porque tem algo a dizer "Vai plantar a semente na profundeza da terra, Pilatos autoriza o sepultamento de Jesus, que mal pode fazer um cadáver ? Tudo o que Jesus representava de ameaça e perigo, contra a Religião Oficial e o Império Romano, agora não mais existia, sobrou de Jesus um corpo rígido, um cadáver cheio de marcas da violência, era preciso mesmo enterrá-lo para tirá-lo dos pensamentos, do coração e da consciência. Morto e enterrado!
Hoje os poderosos que também manipulam, enganam, mentem, massacram e oprimem, fizeram a sua opção por um Cristo morto, preso nas igrejas, e que não incomoda a ninguém, um Cristo impotente para influenciar o homem em suas decisões pelo Bem, uma lembrança de alguém que tornou-se célebre para toda humanidade, mas que já passou....
A postura firme de Jesus diante dos seus inquisidores, a sua determinação em levar adiante a missão que o Pai lhe confiou, a sua firmeza diante dos poderosos desse mundo, e o seu despojamento para Servir a todos, resgatando todos os homens das garras do mal, deve servir nessa sexta feira como um grito de incentivo e alerta para nossas comunidades. Em meio a tanto desânimo e falta de esperança, entre tantos corações que perderam a capacidade de sonhar, precisamos nos arriscar como José de Arimatéia e transformar tantos enterros em semeaduras, confiantes de que a Vida é mais forte que a morte, e de que em cada tragédia a Vida se refaz e o Reino sem torna mais forte e indestrutível, os homens não conseguirão impedir que o Sonho de Deus se torne realidade, esta é a grande lição dessa Sexta Feira Santa, para todos nós.

João 18,1-19,42

sábado, 23 de março de 2013

Jesus, servo obediente de Deus



Comentário do Evangelho de Lc 23, 1-49


Hoje, começa a Semana Santa. Neste dia como na Sexta-Feira Santa, a palavra deve ceder lugar à contemplação. Entrando em Jerusalém, Jesus entra em sua cidade, para levar a termo a vontade do Pai. Entra como “Príncipe da Paz” que reconcilia a humanidade com Deus.
A primeira coisa a ter presente no relato da paixão é que Jesus é o servo obediente de Deus. Depois, que a traição contra Jesus é feita por um dos discípulos, por alguém que gozou do convívio com o Senhor. Mas não foi só um que o traiu, os outros onze também o abandonaram, diante da ameaça da morte. A pergunta se nos impõe: Onde estamos nós na paixão do Senhor?
Não será o sofrimento nem a morte que farão o Senhor sucumbir ou desistir do seu caminho para o Pai. Na hora decisiva, a última e definitiva entrega: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”.
A paixão de Jesus gira em torno de um paradoxo: um inocente condenado a morrer como os bandidos e os marginais. Seus acusadores foram incapazes de aduzir uma só prova consistente contra ele. A autoridade romana, que deveria confirmar a sentença de morte dada pelo tribunal judaico, declarou não ter encontrado em Jesus nada que justificasse uma punição. Foi por isso que Pilatos achou por bem enviá-lo a Herodes, cuja jurisdição abrangia a Galiléia, na tentativa de confirmar seu parecer. Ao ser enviado de volta, Pilatos deduziu que também Herodes nada havia apurado contra Jesus.
A atitude do Mestre, ao longo de todo o processo, foi de silêncio. Ele agia como o Servo Sofredor, que Isaías comparou com um cordeiro manso, levado ao matadouro. Seu silêncio justificava-se. Era impossível buscar a verdade dos fatos com quem estava fechado para a verdade. Não existe Lei para quem se arvora em senhor da vida e da morte do próximo. Toda tirania descamba para a injustiça.
A fragilidade de Jesus diante de seus carrascos tem a densidade de um gesto profético. Ele se recusou, até o fim, a entrar na ciranda da violência, que paga com a mesma moeda a injustiça sofrida. Não respondendo ao mal com o mal, Jesus conseguiu desarticulá-lo, mostrando que é possível ao ser humano não se deixar dominar por seus instintos perversos.

O REBAIXADO



Comentário do Evangelho de Lc 23, 1-49


Rebaixamento é uma palavra que no esporte causa calafrios a dirigentes, jogadores e torcedores, cair para uma divisão inferior é humilhante e porque não dizer “doloroso”, ainda mais quando o time pertence à divisão de elite do futebol.
Isso também se aplica em nossa vida, na realização pessoal em todas as dimensões: social, política e econômica, onde a formação escolar e profissional, agregada á evolução cultural, permite ao homem galgar patamares mais altos, conquistando respeito, prestígio, sucesso e enfim a fama.
O homem foi criado por Deus para a ascese. Às vezes, o modo que o homem utiliza para essa ascensão nem sempre está em sintonia com o projeto de Deus, quando a mesma se faz através da mentira,desonestidade e exploração do semelhante. Neste caso já não se trata de um projeto divino, mas sim diabólico.
Literalmente falando, o Jesus do evangelho é um rebaixado, no aspecto moral, social, político e religioso do seu tempo e na semana santa, que se inicia nesse domingo de ramos, não celebramos, como muitos pensam, um Cristo morto e derrotado, mas a liturgia própria dessa semana reaviva em nossa mente e coração a via dolorosa que Jesus percorreu para alcançar a glória, fazendo para isso a sua “kênose”, ou esvaziamento, como afirma o apóstolo São Paulo na carta aos hebreus “não ursupou da sua divindade mas esvaziou-se a si mesmo”.
Em resumo, Cristo desceu ao mais baixo grau da condição humana, fazendo-se escravo e morrendo como um bandido, sendo desprezado pelos homens, que o viam como um maldito diante de Deus.
No Antigo Testamento conhecemos homens santos, considerados justos diante de Deus, porém, nem o mais virtuoso dos homens seria capaz de realizar tão grande ato de amor, como fez Jesus, que se apresenta como o homem novo, santo e perfeito, que com a salvação resgatou o ser humano, livrando-o da condenação eterna, pois a ofensa que causara a ruptura fora muito grande e imperdoável e por isso, o ato da redenção teria de ser proporcional ao pecado cometido, pois somente dessa maneira o homem se reabilitaria diante de Deus, resgatando a comunhão perfeita do paraíso onde Deus o colocara desde a sua origem.
É precisamente essa alegria, de uma humanidade renovada que ecoa nesse domingo de ramos no evangelho de Lucas, com a narrativa da entrada triunfal na cidade santa de Jerusalém. Não se trata de um triunfo momentâneo, ou de um engodo que arrastará Jesus para o fracasso da cruz, ao contrário, é a expressão mais alta e sincera da gratidão do homem, que se manifesta no louvor ao Rei bendito, que vem em nome do Senhor. Jesus já tinha tomado a decisão, após compreender a vontade de Deus a seu respeito e por isso subiu a Jerusalém, para ser a páscoa definitiva que iria redimir a toda a humanidade.
O relato da paixão segundo Lucas parece ir na contramão da história, porque termina melancolicamente com o enterro de Jesus e com ele, parecia que o homem havia enterrado todos os seus sonhos e esperanças que ainda havia no coração daquele povo. A caminhada humana por essa vida parece terminar de maneira também tão melancólica, mas precisamos prestar atenção no contexto da narrativa, a fidelidade de Jesus ao Pai e o seu amor pela humanidade, o fará superar toda rejeição, ódios e traições, presente no coração dos que tramaram sua morte, e no cálice de amargura que ele não se recusou tomar, estava o mais doce de todos os amores que o homem já experimentou.
O grupo dos discípulos não é perfeito, Judas o traiu, Pedro o negou e além do mais discutiam entre eles quem seria o maior. Em cada personagem que protagoniza a narrativa podemos nos ver, nem sempre fazendo um bom papel.. os que dormem enquanto Jesus se angustia, são os cristãos que não vivem a fé encarnada, que consegue vislumbrar Jesus em todos os que sofrem. Há também os que o traem como Judas, porque não aceitam seu evangelho como referência máxima para se viver, ou ainda os que como Pedro, dizem que são capazes de dar a vida pelo mestre mas na hora mais crítica, em que a sociedade não aceita sua doutrina, alegam que não o conhecem.
Também é bom lembrar que o primeiro julgamento de Jesus foi feito na própria comunidade dos judeus, há comunidades onde o moralismo exacerbado provoca julgamento e condenação de outros Cristos. Pilatos representa aqueles cristãos que jogam o problema para outros resolverem, falam contra o governo, contra o sistema, contra a ideologia, falam até da própria Igreja, mas nunca tem coragem de assumir, dizer o que pensam e mover uma ação em favor da vida dos inocentes. Já o grande Herodes são os cristãos que conhecem a Jesus, ouviram falar de suas maravilhas e exigem seus sinais prodigiosos, para que possam crer. São os que correm atrás do Cristo dos espetáculos que atraem as multidões.
Por isso, antes de agitar nossos ramos e cantarmos hosanas e louvores ao Cristo, nesse domingo de ramos, precisamos nos perguntar que cristãos somos nós e de que lado estamos...

O Perigo do Fundamentalismo



Comentário baseado no Evangelho de Jo 8,51-59


Podemos dizer que os Judeus eram fundamentalistas em extremo e entendiam a escritura antiga ao Pé da Letra. Desta visão distorcida e equivocada dos Profetas e da Torá, é que vem o confronto com Jesus, que jamais contradisse uma só letra da escritura antiga, mas fazia dela uma releitura aplicando á sua vida, tornando-se ele próprio a Palavra Viva e a revelação mais clara da vontade de Deus, o mesmo Deus Javé ou o Deus da Aliança, Pai de Jesus Cristo.
Jesus interpretava a Lei e os Profetas mostrando em seu conteúdo o Deus que se revela e que busca o homem para salvá-lo e resgatá-lo em definitivo das Forças do Mal. Interpretar significa exatamente aplicar a Palavra de Deus escrita na Bíblia, nos dias de hoje, na minha vida e na vida da comunidade, se não houver essa interpretação, corre-se o risco de ser fundamentalista e isso acontece quando não se faz a hermenêutica.
Jesus mostra com palavras e obras á sua relação direta com o Pai, que é o Deus da Aliança, o Deus de Moisés, o Deus de Abrão, Isac e Jacó. Os Judeus julgam serem exímios conhecedores de Deus, apenas pelas escrituras, são eles os interpretadores oficiais e não admitem que nenhum outro o faça, muito menos Jesus, um simples galileu. O que na verdade eles conhecem de Deus é o que dele escreveram os profetas e se falaram dos Patriarcas, conheciam na teoria mais Jesus, o Filho Vivo de Deus está ali diante deles, mais do que conhecer a Deus, Ele provém de Deus, Ele é o Deus vivo...
Jesus nunca se preocupou em fazer sinais prodigiosos para superar os profetas ou os Patriarcas, pois estes apenas prepararam o caminho para aquele que haveria de vir, preliminarmente Deus se manifestou nesses Santos Homens, mas jamais com a perfeição com que se manifestou em Jesus Cristo, seu Filho. Todos os que o precederam anunciaram a Salvação e a libertação, Jesus é a Salvação e a Libertação, ele não mostra o caminho mais ele é o caminho, ele não mostra a Verdade, ele é a Verdade, ele não mostra a Vida, ele é a Vida!
Jesus é a Escritura Viva de Deus, é o Verbo Encarnado, mas os Judeus fundamentalistas só o vêem como um intermediário, na linha dos Patriarcas e dos Profetas de Israel, valorizam a "casca" e menosprezam o fruto doce que está dentro dela, enfiam as mãos pelos pés e confundem o meio com o fim....Confusão típica de quem é fundamentalista e não consegue sentir em sua vida os efeitos maravilhosos da Graça operante e santificante que Jesus oferece mediante a Fé...

A palavra de Jesus é um sopro que faz viver. “Guardar”, isto é, pôr em pratica a sua palavra, é viver e experimentar a vitória sobre toda a realidade da morte.
No episódio de Lázaro (Jo 11,1-57), no diálogo com Marta, Jesus diz: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá jamais” (11,25-26). No diálogo noturno de Jesus com Nicodemos, ele também dirá: “… Deus amou tanto o mundo que entregou seu Filho único para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
A origem e o destino de Jesus foram motivo de controvérsia com os judeus. Por um lado, o Mestre proclamava: “Se alguém guarda a minha palavra, jamais verá a morte”. Por outro, afirmava: "Antes que Abraão existisse, Eu sou".
Seus adversários raciocinavam de maneira aparentemente lógica. Os personagens mais veneráveis do povo, como Abraão e os profetas, morreram. Acreditava-se na volta do profeta Elias, que fora arrebatado ao céu numa carruagem de fogo. Não se tinha, porém, notícia de alguém que não iria experimentar a morte. Com Jesus, não haveria de ser diferente. Quanto à sua origem, era suficiente considerar sua idade bastante jovem – "Ainda não tens cinqüenta anos..." – para se dar conta da falsidade de sua afirmação.
Este modo de pensar estava em total descompasso com a real intenção de Jesus. Referindo-se à morte, pensava em algo muito mais radical que a pura morte física. Suas palavras abririam caminho para a vida eterna, na comunhão plena com o Pai, para além das vicissitudes desta vida terrena. Ao referir-se à sua origem, não estava pensando no seu nascimento carnal, historicamente determinável, e sim na sua vida prévia, no seio do Pai. Neste sentido, pode-se dizer anterior ao patriarca Abraão, por possuir uma existência eterna.
Os inimigos de Jesus eram demasiados terrenos para compreender esta linguagem.

quarta-feira, 20 de março de 2013

POR QUE TER MEDO DE CONFESSAR-SE?





Uma das ideias errôneas que se faz da confissão é que o sacerdote se horroriza quando o fiel vem confessar seus pecados. Mas o que realmente acontece, é que a alegria que estes confessores sentem em reatar os laços de amor que Deus tem com seus servos é tanta, que eles até se esquecem do pecado cometido pelo fiel, por mais cabeludo que for.
Eis aqui alguns casos sobre a confissão retirados da revista católica “O Desbravador”:

São João Nepomuceno
São João Nepomuceno, cônego de Praga, era confessor da rainha consorte de Vanceslau VI, rei da Boêmia. Este, suspeitoso e vicioso, pretendia saber de João os pecados que a rainha tinha confessado. São João recusou resolutamente.
O rei recorreu em vão a lisonjas, a promessas e ameaças; deu ordens para que o manietassem e intimou–lhe que manifestasse tudo, sob pena de ser lançado no rio Moldava.
S. João respondeu firmemente:
- Não posso.
O rei mandou-o então lançar ao rio. Passava-se isso na noite de 16 de Maio de 1383.
Deus glorificou o mártir do sigilo sacramental com grandes números de milagres: uma luz extraordinária fez onde encontra-se o seu cadáver, muitos enfermos curarem-se invocando-o; e quando 336 anos depois, foi aberto o seu sepulcro não havia senão esqueleto, mas a língua estava ainda intacta como se o Santo não tivesse morrido nessa ocasião.

Deus vela pelo sigilo sacramental
Tendo enlouquecido um sacerdote, alguns jovens conhecidos tentaram arrancar-lhe coisas ouvidas nas confissões. Principiaram por interrogá-lo sobre coisas estranhas ao sacramento, e o pobre sacerdote respondia, excitando riso aos seus interlocutores.
Depois, um desse interrogou-o acerca dos pecados de uma certa pessoa de quem o sacerdote tinha sido confessor. Este, pondo-se sério, acercou-se do jovem imprudente e deu-lhe uma sonora bofetada. O jovem emudeceu e nem sequer tentou renovar a experiência, reconhecendo como, de fato, Deus vela pelo sigilo sacramental.

Vítima do sigilo sacramental
Em 1894, era condenado a 10 anos de trabalhos forçados pelo tribunal de Baltimore (EUA), o padre Lutz, acusado, segundo o libelo, de ter roubado, abusando de seu ministério uma importante quantia de dinheiro a um banqueiro gravemente enfermo e que em seguida morreu.
Na audiência, o padre Lutz proclamou-se inteiramente inocente da culpa que se lhe amputava, mas, com igual firmeza, declarou não poder revelar o motivo por que fora encontrado na sua posse o dinheiro cuja falta se descobriu na casa do banqueiro.
Em 1897 informaram os jornais americanos que, tendo-se procedido à revisão daquele processo, o tribunal absolveu o digno sacerdote, o qual já havia expiado dois anos da pena a que fora injustamente condenado. O presidente declarou estar profundamente contristado por tal erro judiciário.
Eis o que levou ao conhecimento da verdade:
Entre os papéis do defunto achou-se uma nota, da qual resultava que o banqueiro tinha encarregado o abade Lutz de restituir a uma pessoa, por ele gravemente lesada, a soma de dinheiro que foi encontrada em poder do sacerdote. Como, porém, tal restituição devia fazer-se debaixo do segredo da confissão, o digno ministro do Senhor nada pôde dizer, preferindo os trabalhos forçados à infração do seu dever. (Ossevatore católico, 1897)

Santo Afonso de Ligório
Conta Santo Afonso de Maria Ligório que uma senhora vivia escondendo na confissão um pecado desonesto.
Quando por sua aldeia passaram dois missionários, resolveu confessar aquele pecado que tanto a atormentava, mas que por vergonha escondia. Rogou a um dos padres que a ouvisse em confissão. Quando os padres prosseguiram sua viagem, um deles comentou intrigado:
- Padre, aquela senhora que estava se confessando com o senhor vi saírem da boca daquela mulher muitas cobras, e uma serpente enorme que botou cabeça afora, mas voltou de novo para dentro, e logo depois todas as serpentes que tinham saído antes.
- Mas isso é um terrível sinal. Voltemos a falar com ela.
Voltaram à casa dela e perguntaram por ela.
- Padre, depois que ela voltou da confissão e entrou em casa, morreu repentinamente.
Por três dias seguidos, os sacerdotes jejuaram e oraram suplicando ao Senhor que lhes manifestassem o significado do sucedido.
Ao terceiro dia, apareceu-lhes a infeliz mulher condenada sobre um demônio em figura de um dragão horrível com duas serpentes enroladas ao pescoço que afogavam e comiam os peitos; uma víbora na cabeça, dois sapos nos olhos, setas ardentes nas orelhas, chamas de fogo na boca e dois cães danados que a mordiam, e lhe comiam as mãos; e dando um triste e espantoso gemido, disse aos padres:
- Eu sou a desventurada senhora que V. Revma. confessou há já três dias. Conforme ia me confessando, meus pecados iam saindo como animais imundos pela minha boca, e aquela serpente, que o companheiro viu sair e voltar depois para dentro, era a figura de um pecado impuro que calei sempre por vergonha. Quis confessá-lo à vossa Rvma., mas também não tive coragem, por isso, voltou a entrar na minha boca, e com ele, todos os demais que haviam saído. Cansado já de tanto me esperar, Deus tirou-me repentinamente a vida e me precipitou no inferno, onde sou atormentada pelos demônios em figuras de horrendos animais. A víbora me atormenta a cabeça pela minha soberba e excessivo cuidado em pentear os cabelos; os sapos cegam-me, por meus olhares impuros; as flechas acesas me atormentavam as orelhas, porque escutei murmurações, palavras e cantigas obscenas; o fogo abrasa-se a boca pelas murmurações, palavras torpes; tenho as serpentes enroladas ao pescoço e me comem os peitos, porque os levei de um modo provocativoPelo decote de meus vestidos e pelos abraços desonestos; os cães me comem as mãos, pelas más obras e tatos impuros. Ai! Que não há remédio para mim senão tormentos e penas eternas! Ai das mulheres! Porque muitas delas se condenam por gêneros de pecados: por pecados de impureza, pelas galas e enfeites, por feitiçaria e por calar pecados na confissão; os homens se condenam por toda a classe de pecados, mas as mulheres principalmente por esses quatro pecados.
Dito isto, abriu-se a terra e por lá entrou esta infeliz mulher, até o mais profundo inferno, onde padecerá por toda a eternidade .

Pensa ó católico, e entenda que Deus Nosso Senhor mandou essa infeliz senhora do inferno, e que passasse pela vergonha, para que todos os homens soubessem a sorte que os espera se, pecando, não se confessarem bem.
Oxalá que tu tirasses da leitura deste exemplo horroroso o fruto que tiraram outros, fazendo uma boa confissão e emendando de tudo.
Um autor diz que este exemplo converteu mais gente que duzentas quaresmas. O padre missionário Jaime Coralla fez voto de pregá-lo em todas as missões, pelo grande proveito que lhe tiravam os fiéis. E até um bispo estabeleceu que em certos tempos do ano se pregasse ou se lesse este caso na igreja.
Mas, ai de ti, se não aproveitasse dela!
Ai de ti se não confessares todos os seus pecados! Ai de ti se, mal preparado, fores receber a santa comunhão! Melhor seria se não tivésseis nascido!

Dito isto, eu gostaria apenas de lembrar que os pecados os quais o fiel se arrependeu, mas não foram confessados por esquecimento também podem ser perdoados.

Universo Católico

sexta-feira, 15 de março de 2013

Tal Pai, tal Filho...



Comentário baseado no Evangelho de Jo 5,17-30            13\03\2013


Longe de esconder sua filiação Divina diante dos Judeus que sempre o ameaçavam quando esse assunto vinha a baila em suas discussões, Jesus afirma categoricamente ser o Filho de Deus e revela que todas as suas ações estão em perfeita sintonia com a vontade do Pai, os dois agem juntos.
Com Jesus falando as claras com eles, ficaria muito fácil perceber que o Pai a quem Ele se refere é o Deus da Aliança, que transmitiu suas Santas Leis a Moisés. Bastaria que quisessem saber mais, e deixassem que seus corações se inquietassem com as palavras de Jesus e rapidamente descobririam a Verdade.
Entretanto os Judeus, que estão distantes da Verdade e o coração fechado para a Boa Nova, se enfurecem ainda mais e querem matá-lo de qualquer jeito, pois violou a Lei do Sábado e ainda por cima chama a Deus de Pai e se faz igual a Ele. Um absurdo... um sacrilégio... uma blasfêmia que justificava a sua condenação.
Ao falar de si, da sua imagem e semelhança com o Pai, do seu agir em conjunto com Ele, da relação extremamente amorosa que há entre os dois, Jesus está falando da relação Deus - Humanidade, Jesus está mostrando com extrema clareza quem é o homem e qual é o seu destino junto de Deus. Jesus está se apresentando como aquele que irá Salvar, redimir e resgatar a imagem e semelhança de Deus, que o homem havia perdido com o pecado e diante desse fato inédito para a humanidade toda, as Leis de Moisés não representavam mais nenhuma novidade.
E essa rejeição por esta Divindade que se Humaniza e reflete quem Ele é nas ações humanas, continua hoje, talvez por outras razões, mas com muito mais intensidade.
O homem da pós modernidade anda em busca de algo grandioso mas a sua cegueira espiritual não deixa ver que essa grandiosidade está na própria natureza humana, porque Deus regravou sua imagem em cada um de nós, quando Jesus se encarnou. Nosso Deus não está lá em cima em algum lugar do espaço cósmico, escondido de todos para nos fazer uma surpresa no final da História, Ele está oculto nas entranhas do Ser humano, morando em sua alma e em seu coração, Feliz do Homem que o encontra bem dentro de si, tão perto e tão longe ao mesmo tempo, porque o Homem ainda não se descobriu e não se reconhece como Filho amado de Deus...
Há, aqui, uma ampliação das consequências do episódio anterior. Os judeus procuravam matá-lo por duas razões, segundo o nosso texto: por violar o sábado e por dizer que Deus era seu Pai, fazendo-se igual a Deus. Diante da crítica de ter curado em dia de sábado, Jesus responderá: "Meu Pai trabalha sempre, e eu também trabalho".
A afirmação de Jesus encontra apoio em Dt 5,12-15, em que não se diz que Deus descansa, mas que o homem deve parar o seu trabalho no dia de sábado para fazer memória da saída do Egito. A comunhão com o Pai é que faz com que o Filho faça a obra de Deus.
O ódio crescente contra Jesus e a decisão de matá-lo tinha uma razão bem clara: sua pretensão de fazer-se igual a Deus. Isto se deduzia da liberdade com que trabalhava em dia de sábado. Segundo a teologia da época, só Deus trabalha em dia de sábado para garantir a subsistência da criação e da vida sobre a face da Terra. Os sinais realizados por Jesus, em dia de sábado, tinham características semelhantes, pois estavam estreitamente relacionados com a recuperação da vida.
Nos seus ensinamentos, Jesus jamais chamou-se de "Deus". De fato, sempre falou do Pai, a cuja vontade estava submetido, do qual viera e para o qual voltaria, que o enviou com a missão de restaurar a existência humana corrompida pelo pecado. Sua palavra era perpassada pela consciência de ser Filho. Nunca pretendeu usurpar o lugar do Pai; antes, soube colocar-se no seu devido lugar até o último momento, quando exclamou: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito!".
Jesus, porém, tinha consciência de ser o caminho de encontro com o Pai. Quem acolhesse suas palavras, estaria acolhendo as palavras do Pai. Crer nele comportava crer no Pai. Honrá-lo corresponderia a honrar o Pai. Pelo contrário, rejeitá-lo significava rejeitar o Pai.
A teologia rígida dos adversários de Jesus não podia suportar tamanha ousadia. A decisão de matá-lo foi o expediente extremo para eliminar uma pessoa incômoda.

Amor a Deus e ao Próximo


Comentário baseado no Evangelho Mc 12,28-34



Muitas vezes nos evangelhos, algumas pessoas importantes que se aproximam de Jesus para o interrogá-lo, entre elas Escribas e Doutores da Lei, já o rejeitaram e só estão a procura de um argumento para denunciá-lo ao Conselho visando a sua condenação e morte.
Mas no evangelho de hoje esse Escriba procurou Jesus com sinceridade para lhe perguntar qual era o Mandamento mais importante de toda a Lei de Moisés.
Jesus mostra com absoluta clareza aquilo que está no centro da Lei “O amor sem medidas para com Deus, em primeiro lugar, e o amor ao próximo” que é tão importante quanto o primeiro, e que , no dizer de Jesus, não há nenhum outro que supere esses dois.
É fácil percebermos quando a pessoa que se aproxima de Jesus para conhecê-lo e experimentá-lo, está a procura de algo novo. Basta ver o entusiasmo na concordância com a Palavra “Perfeitamente Mestre, dissestes bem...”. E o Escriba repetiu exatamente, palavra por palavra, o ensinamento que Jesus acabara de fazer, respondendo a sua pergunta e ainda fez uma bela interpretação “Esse amor a Deus e ao próximo supera todos os holocaustos e sacrifícios”. O Escriba captou que algo bem maior e mais profundo do que as Verdades do Judaísmo estava ali diante dele, trazido por Jesus, o grande Mestre.
Vivemos em uma sociedade que até conhece e crê em Jesus, mas que dificilmente concorda com a sua Palavra e o seu ensinamento, centralizado na preservação da Vida e da Dignidade humana, em um Reino pautado pela Justiça e Igualdade. Basta ver o que a nefasta cultura da pós Modernidade apregoa sobre aborto, divórcio, eutanásia e outros pontos que contrariam totalmente esse Amor a Deus e ao próximo.
Jesus ao final da conversa encheu o coração daquele Escriba de alegria e esperança quando lhe disse “Na verdade não estás longe do Reino de Deus”. Certamente não dirá o mesmo do Homem ateu da pós-modernidade, perdido na sua arrogância, prepotência e Egocentrismo, sempre pensando que o Homem é o Centro do Mundo. Quanta ilusão...
O texto que nos ocupa faz parte de uma série de textos que, no evangelho de Marcos, são caracterizados como "diálogos didáticos". Tais diálogos têm por finalidade instruir os discípulos a apresentar o que é fundamental para a vida cristã.
O que é óbvio para muitos de nós, hoje, não o era para os contemporâneos de Jesus. Não era difícil, entre tantos mandamentos a serem observados (613), se perguntar: Qual é o maior? Qual deles é o primeiro, isto é, o fundamento de todos os demais? Qual deles, numa situação de conflito entre dois ou mais preceitos, tem precedência e é exigido pela Lei?
A resposta de Jesus é sem equívoco: o amor a Deus que exige o amor ao próximo. O amor não é um entre outros mandamentos, mas é ele que está na origem da Lei. Para o discípulo, o amor é a expressão máxima da vida cristã.
A pergunta pelo primeiro dos mandamentos comporta uma preocupação: onde a vida humana deve centrar-se? A resposta a este problema é fundamental para a vida do discípulo. Mas não basta responder teoricamente. É mister que discípulo tome consciência onde efetivamente sua vida está centrada. O engano, aqui, pode ser fatal!
A resposta de Jesus ao mestre da Lei aponta para os dois eixos vertebradores da vida do discípulo: Deus e o próximo. Considerando bem, ambos os eixos se exigem mutuamente, a ponto de um levar ao outro, e a ausência de um provocar a ausência do outro.
Quem está centrado em Deus, está necessariamente aberto ao amor e à solidariedade, está sempre pronto para lutar pela justiça, não suportando ver o próximo ser vilipendiado. Sobretudo, torna-se um lutador incansável pela causa do Reino, ansiando por vê-lo acontecer em sua própria vida e na de seus semelhantes.
Por outro lado, tem sua vida centrada no próximo quem é capaz de superar o egoísmo e romper as amarras das paixões, quem se esforça para se libertar da tirania do pecado, tornando-se livre para Deus. Em outras palavras, quem tem Deus no coração.
Todos os demais eixos são espúrios e devem ser rejeitados pelo discípulo do Reino. Basta considerar o modo de proceder de quem não ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. São pessoas desumanizadas e desumanizadoras.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Na Comunhão dos Santos louvamos Maria, a Mãe de Jesus



A Bíblia nos ensina que Deus é três vezes santo, só Ele é santo. Deus comunica a santidade, é um Deus santificador e deseja um povo santo: ”Sede santos, porque eu, Javé, sou santo” (Levítico 19,2;20,26). A santidade de Jesus é idêntica à santidade de seu Pai Santo (João 17,11). Jesus santifica os cristãos; o Espírito Santo é o agente santificador dos cristãos. Jesus vai recomendar: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito“ (Mateus 5,48). Portanto, a santidade é vocação de todo cristão: “A vontade de Deus é esta: a nossa santificação” (1 Tessalonicenses 4,3).

Ser santo é cumprir a vontade de Deus em nossa vida. Santos são, portanto, todos aqueles que vivem o Evangelho e, de forma toda especial, os que já se encontram hoje na casa do Pai. Os santos não ocupam o lugar de Deus, não são inventados pelos homens, não são deuses, mas criaturas de Deus, a quem Deus privilegiou com um amor especial, e viu este amor ser correspondido. Eles só são reconhecidos como santos porque foram amigos íntimos do único Deus que os santificou. Os santos são heróis da fé vivida no amor, fé no único Deus verdadeiro, o Deus revelado em Jesus Cristo.

Nenhum católico adora os santos, mas os respeita e venera como amigos de Deus. Este respeito e veneração vêm da fé na ressurreição, pois os que morrem no Senhor estão com Ele. Vêm da fé na “comunhão dos santos”: os santos intercedem por nós diante de Deus. A Bíblia nos mostra que Deus opera milagres pela intercessão dos santos. Um exemplo é a cura do coxo de nascença, operada por São Pedro e São João, junto à porta do Templo: “Não tenho nem ouro nem prata, mas o que tenho isto te dou. Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda” (Atos 3,1-9). E a Bíblia apresenta outros inúmeros exemplos afirmando que “Deus fazia não poucos prodígios por meio de Paulo” (Atos 19,11-12). Jesus é nosso único mediador entre Deus e os homens, e Ele disse: ”O Pai dará a vocês tudo o que pedirdes em meu nome” (João 15,16).

Um santo só opera em nome de Jesus, porque só em Jesus está a fonte da graça e a força de Deus. Os santos não estão em oposição ao Senhor. Ao contrário, colocam em evidência a glória e santidade de Jesus Cristo, cabeça da Igreja e nosso único salvador. Pois foi Jesus mesmo quem afirmou: ”Eu garanto a vocês: quem crê em mim, fará as obras que eu faço, e fará maiores do que estas, porque eu vou para o Pai” (João 14,12). Ninguém pode ser santificado, sem entregar sua vida por Jesus e pelos irmãos. Honrar um santo significa reconhecer a força transformadora da Palavra de Deus, que santifica quem a aceita e a coloca em prática.

O santo é para os cristãos um exemplo de quem testemunhou sua fé no seguimento de Jesus. Nós, católicos, temos a alegria de abrir nosso álbum de família – a nossa família na fé – e contemplarmos uma fileira de heróis na fé, os santos, nossos irmãos e amigos, que conseguiram servir a Deus com fidelidade e, junto de Deus, pedem por nós. Santos e santas, rogai a Deus por nós!

Entre os santos de Deus está, em primeiro lugar, Maria, a mãe de Jesus(Mateus 2,1; Marcos 3,32; Lucas 2,48; João 19,25).

 Texto:
Cônego Pedro Carlos Cipolini - Doutor em Teologia (Mariologia); professor titular da PUC–Campinas; membro da Academia Marial de Aparecida



Nota:
Sobre o uso de imagens na Igreja, consultar:

JOÃO PAULO II, Duodecim Saeculum. Carta Apostólica sobre a Veneração das Imagens, 1987. Petrópolis: Vozes, 1988.

PONTIFICAL ROMANO. Ritual da dedicação de igreja e de altar, 1977. São Paulo: Paulinas, 1984.

SCOMPARIM  A. F., A iconografia na Igreja Católica. São Paulo: Paulus, 2008.                              

Imagens e Idolatria




Muitos se perguntam: os católicos adoram imagens? A resposta é: NÃO! Nunca as adoraram, sempre as valorizaram. As imagens valem o que vale uma foto; ela pode estar gasta, mas recorda um ente querido. Os católicos não adoram imagens; somente as utilizam para lembrar de alguém que é maior, e a isso se chama de veneração e NÃO de adoração. O sentido das imagens católicas está na linha da serpente de bronze que Deus mandou Moisés esculpir (Números 21,8-9), segundo a explicação dada em Sabedoria 16,7: ”e quem se voltava para ele (o sinal da serpente), era salvo, não em virtude do que via, mas graças a Ti, ó Salvador de todos”.


Imagens permitidas na Bíblia:

A Bíblia apresenta, muitas vezes, o mistério de Deus através de imagens: e a primeira imagem quem a fez foi o próprio Deus, ao criar o ser humano à sua imagem e semelhança (Gênesis 1,27;2,7). O mesmo Deus manda Moisés fazer dois querubins de ouro e colocá-los por cima da Arca da Aliança (Êxodo 25,18-20). Manda Salomão enfeitar o templo de Jerusalém com imagens de querubins, palmas, flores, bois e leões (1Reis 6,23-25 e 7,29). O Novo Testamento também apresenta o mistério de Deus através de imagens: a imagem de Jesus como cordeiro digno de receber a força e o louvor (Apocalipse 5,12). Quando do batismo de Jesus, o Espírito Santo é apresentado em forma de pomba (Mateus 3,16) e, no dia de Pentecostes, com línguas de fogo (Atos 2,1-3).
Jesus ensinava através de imagens: “Eu sou o bom pastor” (João 10,14). Os primeiros cristãos vão representar Jesus desenhando um Bom Pastor com a ovelha nos ombros. Olhando esta imagem, eles não adoravam um pastor, mas pensavam na ternura de Deus que, em Jesus, busca a ovelha perdida. Representar algo por imagem ou símbolo era comum na Igreja primitiva, sobretudo em tempos de perseguição. Por muito tempo, as pinturas dos santos e de cenas bíblicas nas Igrejas foram o único livro que os cristãos mais simples puderam ler e entender.


 Imagens proibidas na Bíblia, idolatria:

A Bíblia, então, não proíbe as imagens? Sim, proíbe quando sua finalidade é servir à idolatria: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da escuridão. Não terás outros deuses diante de minha face. Não farás para ti escultura alguma do que está em cima dos céus, ou abaixo sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles e não lhes prestarás culto” (Êxodo 20,2-5). Em várias passagens bíblicas se repete esta proibição de não adorar outros deuses e nem fazer deuses fundidos (Êxodo 34,14-17; Deuteronômio 7,5).

Podemos perceber que "ídolo" designa imagem feita para ser adorada como deus, como faziam os pagãos com suas divindades. Para os judeus, as imagens dos deuses são os próprios deuses pagãos. Os povos vizinhos dos judeus acreditavam em muitos deuses e faziam imagens deles. Geralmente, estes deuses, criados pelo próprio homem, serviam de apoio ao sistema injusto e cruel que maltratava o povo, em especial os pobres. Em Israel não se podia fazer imagem de Deus, não se podia imaginar como Deus era, pois Ele é invisível e ninguém nunca o tinha visto. Do Deus verdadeiro não se faz imagens, porque todas as imagens são inadequadas para Javé. Dos falsos deuses se faziam imagens que eram chamadas de ídolos; eram rivais de Javé. Idolatria é a exclusão do Deus verdadeiro, substituindo-o por um falso deus.

O ídolo estava sempre ligado a um sistema de corrupção e opressão, levando a sociedade à divisão e à guerra por causa da ganância pela terra, bens materiais e dinheiro, fama, prazer e poder. Estes, sim, são os verdadeiros ídolos que afastam a pessoa do Deus verdadeiro, competindo com Ele no coração (cf. Mateus 4,1-10; Lucas 4,1-12).


Portanto: Deus parece, mas não é incoerente, já que num lugar da Bíblia manda fazer imagens e noutro lugar o teria proibido. A imagem, hoje, mais do que nunca, faz parte da linguagem humana e é representação de pessoa, coisa, ideia. A Bíblia fala de imagens algumas vezes para denunciar a idolatria, outras vezes para mostrar o quanto a imagem é necessária para entendermos, por meio do Filho, o próprio Pai: “Ele (Jesus) é a imagem do Deus invisível...” (Colossenses 1,15).

Os primeiros cristãos, martirizados aos milhares porque se recusaram a adorar imagens de deuses falsos, estudaram a Bíblia com atenção. Eles não tiravam esses textos que proíbem imagens de seu contexto. Comparando-os com outros textos bíblicos, ficaram convencidos de que Deus proíbe imagens de deuses falsos, adoração de ídolos que representem falsos valores, os quais induzem ao pecado. É o que faziam os povos vizinhos de Israel. Mas Deus não proíbe fazer outras imagens que contribuem para exaltar sua glória e poder. O II Concilio de Nicéia, no ano 787, defende a veneração das imagens (pintura e escultura) de santos pelos cristãos e o uso de símbolos nas celebrações litúrgicas. O mesmo fez o Concilio Vaticano II, mantendo o culto às imagens conforme a tradição (LG 67), contanto que seja em número comedido e na ordem devida (SC 125).


Texto:
Cônego Pedro Carlos Cipolini - Doutor em Teologia (Mariologia); professor titular da PUC–Campinas; membro da Academia Marial de Aparecida



Nota:
Sobre o uso de imagens na Igreja, consultar:

JOÃO PAULO II, Duodecim Saeculum. Carta Apostólica sobre a Veneração das Imagens, 1987. Petrópolis: Vozes, 1988.

PONTIFICAL ROMANO. Ritual da dedicação de igreja e de altar, 1977. São Paulo: Paulinas, 1984.

SCOMPARIM  A. F., A iconografia na Igreja Católica. São Paulo: Paulus, 2008.                              

domingo, 10 de março de 2013

A Oração e Nós



Comentário do Evangelho baseado em Lc 18-914


O Evangelho de hoje nos mostra o que há por trás da Oração. Um salmo afirma que “A boca proclama aquilo do qual o coração está cheio” e por isso, quem é arrogante e prepotente, dominado pela soberba, não consegue tirar a “Carapuça” nem na hora de rezar, colocando-se diante de Deus como uma pessoa Santa, Piedosa e Justa, comparada com as demais. Eu cansei de ouvir certas invocações da Oração dos Fiéis, que foram elaboradas por alguém que tem problemas de relacionamento com algum irmão, com o Padre, Diácono, Ministro ou Catequista.
“Rezemos pelo nosso padre, para que se converta verdadeiramente a Cristo, rezemos ao Senhor”  Por trás dessa fórmula está a denúncia de que o Padre tem algum pecado público gravíssimo e ainda não é um convertido.
Rezemos para que o Movimento tal se comprometa mais com o autêntico evangelho de Cristo. Rezemos ao Senhor. Aqui o autor da oração está dizendo que o Movimento tal não prega e nem vive o Evangelho.
Rezemos para que aquela jovem do Grupo de jovens, que está grávida, acolha com amor a criança e não busque no aborto a saída para o seu namoro que deu errado. Rezemos ao Senhor. E só faltava a oração ser mais explícita, como essa “Rezemos para que aquele Ministro Sem Vergonha, pare de agredir a esposa e deixe a bebida. Rezemos ao Senhor...Em todas essas orações, o autor se julga Santo e irrepreensível diante de Deus.
Eis aí se repetindo a história da oração do Fariseu e do Publicano, que longe de querer pedir ajuda Divina, em todos esses casos, o que faz na verdade é denunciar publicamente os pecados dessas pessoas. Na minha comunidade isso já ocorreu não de maneira explícita como aqui coloquei, mas de maneira velada...o que é ainda pior.
Que tipos de sentimentos tais orações despertam na assembleia? Certamente que os piores possíveis, eu ouvi de alguém , após a celebração, essa afirmativa “Então a menina do Grupo de jovens está grávida e tentando abortar, sempre soube que ela era da “Pá Virada”, e ainda pousa de santinha na comunidade...”
O evangelho deixa claro que orações assim não justificam a ninguém, e o que é uma oração justificada? Aquela que em nosso coração temos a certeza de que Deus ouviu. Por isso o Publicado, lá no último banco, de cabeça baixa e contrito, ao reconhecer o seu pecado, tendo certeza de que Deus o ama apesar disso, clamou por Misericórdia e foi atendido, voltando para casa satisfeito, por saber que a sua oração chegou até o Céu.
Quanto a oração do nosso amigo Fariseu, bem como as fórmulas da Oração dos Fiéis que citei como exemplo, podem ter certeza de que “O Email voltou”...

Atitudes do homem diante de Deus


A parábola do fariseu e do publicano é própria a Lucas. A parábola confronta duas atitudes do homem diante de Deus. Os destinatários da parábola são aqueles que confiam em si mesmos porque se julgam justos, e desprezam os outros (cf. v. 14).
O fariseu retém na sua oração o motivo de sua justiça: jejuava duas vezes por semana e pagava o dízimo de toda a sua renda (v. 12). Sabe que a observância dos preceitos da Lei é dom de Deus, por isso agradece (cf. v. 11). A contradição da sua justiça expressa na sua oração, que ele faz intimamente, é o desprezo e o juízo dos outros que ele considera ladrões, desonestos, adúlteros; nem o publicano, que rezava ao lado dele, escapou.
A oração do publicano está centrada na sua falta, e ele se apresenta humilde diante de Deus: ". ficou à distância e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu." (v. 13). A falta do fariseu é que ele se cria justo e a causa de sua justiça era, segundo ele, mérito seu; quanto ao publicano, ele é justificado porque se abre para o dom da salvação de Deus. A salvação que vem de Deus não é mérito, é dom e, enquanto tal, deve ser recebida.


 DOIS MODOS DE REZAR


O contraste entre a oração do fariseu e a do publicano ilustra duas posturas diante de Deus, o modo inconveniente e o modo conveniente de rezar.
O fariseu encarna o modo inconveniente de se dirigir a Deus. Sua postura empertigada deixa transparecer a consciência de ser estimado por Deus e gozar de grande prestígio diante dele. Suas palavras denotam o grande conceito que tinha de si mesmo. Sabia-se ser uma pessoa acima de qualquer suspeita, muito diferente do resto da humanidade formada por ladrões, injustos e adúlteros. Deus não tinha como fazer-lhe nenhuma censura, uma vez que era fiel no cumprimento dos mandamentos, dentre os quais, o pagamento do dízimo.
A oração revestida de tal soberba, de forma alguma pode ser agradável a Deus. Quem se serve dela, terá a humilhação como resposta.
O publicano situa-se no pólo oposto: mantém-se distante, de cabeça baixa, temendo erguer os olhos para os céus, pois tinha consciência de ser pecador, carente da misericórdia e do perdão divinos. Sem títulos de grandeza nem provas de virtude, só lhe restava colocar-se, humildemente, nas mãos do Pai.
A oração do humilde toca o coração de Deus e é atendida. Ele vem em socorro de quem sabe reconhecer-se limitado e impotente para se salvar com as próprias forças.