Comentário do
Evangelho de Lc 23, 1-49
Hoje, começa a Semana
Santa. Neste dia como na Sexta-Feira Santa, a palavra deve ceder lugar à
contemplação. Entrando em Jerusalém, Jesus entra em sua cidade, para levar a
termo a vontade do Pai. Entra como “Príncipe da Paz” que reconcilia a
humanidade com Deus.
A
primeira coisa a ter presente no relato da paixão é que Jesus é o servo
obediente de Deus. Depois, que a traição contra Jesus é feita por um dos
discípulos, por alguém que gozou do convívio com o Senhor. Mas não foi só um
que o traiu, os outros onze também o abandonaram, diante da ameaça da morte. A
pergunta se nos impõe: Onde estamos nós na paixão do Senhor?
Não
será o sofrimento nem a morte que farão o Senhor sucumbir ou desistir do seu
caminho para o Pai. Na hora decisiva, a última e definitiva entrega: “Pai, em
tuas mãos entrego o meu espírito”.
A
paixão de Jesus gira em torno de um paradoxo: um inocente condenado a morrer
como os bandidos e os marginais. Seus acusadores foram incapazes de aduzir uma
só prova consistente contra ele. A autoridade romana, que deveria confirmar a
sentença de morte dada pelo tribunal judaico, declarou não ter encontrado em
Jesus nada que justificasse uma punição. Foi por isso que Pilatos achou por bem
enviá-lo a Herodes, cuja jurisdição abrangia a Galiléia, na tentativa de
confirmar seu parecer. Ao ser enviado de volta, Pilatos deduziu que também
Herodes nada havia apurado contra Jesus.
A
atitude do Mestre, ao longo de todo o processo, foi de silêncio. Ele agia como
o Servo Sofredor, que Isaías comparou com um cordeiro manso, levado ao
matadouro. Seu silêncio justificava-se. Era impossível buscar a verdade dos
fatos com quem estava fechado para a verdade. Não existe Lei para quem se
arvora em senhor da vida e da morte do próximo. Toda tirania descamba para a
injustiça.
A
fragilidade de Jesus diante de seus carrascos tem a densidade de um gesto
profético. Ele se recusou, até o fim, a entrar na ciranda da violência, que
paga com a mesma moeda a injustiça sofrida. Não respondendo ao mal com o mal,
Jesus conseguiu desarticulá-lo, mostrando que é possível ao ser humano não se deixar
dominar por seus instintos perversos.
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